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Reflexividade

A contemporaneidade absorve-me Assim como faz-me absorver coisas estranhas. Essas coisas não se resumem em abstrato ou concreto Vão além da fome, da sede, da carência de afeto. Confunde-me, divide-me entre perdição e libertação. Enche meus ouvidos, pulmões, nariz e coração. Enche-me de impurezas De efeitos colaterais, laterais, horizontais e verticais. Expressivos e opressivos. Degusto a angústia que corrói-me a mesma parte a cada dia. Num suplício de prometeu acorrentado à rocha Prometo dia-a-dia, suportar a cada dia Minha insana mente reflexiva. 

Matemática da desigualdade sem números

Às vezes, quando estou entediado, fico pensando na desigualdade. Talvez, por excesso de conforto e felicidade, me ponha a preocupar-me com os problemas dos outros. Fico com teorias malucas, sem sentido, que não servem pra nada. Mas mesmo assim insisto. Talvez me faça parecer sensível, intelectual. Como se eu fosse alguém que se importa com os problemas do mundo. Tento entender a matemática por traz de tudo. Matemática. A desigualdade é uma questão de matemática.  Não é teoria, política, ideologia, filosofia. É matemática. Poderíamos talvez dizer, por assim dizer, que aquilo que chamamos de riqueza é resultado da soma das coisas que existem na natureza com a força de nosso trabalho, que transforma tais coisas em outras coisas.  E essas coisas que vem de outras coisas e que geram ainda outras coisas vão se multiplicando na medida da engenhosidade e empenho de quem as multiplica. Porém, tal engenhosidade e empenho têm um limite humano. Se a propriedade privada é

Olhos No Espelho

                     Aqueles olhos. Nem verdes nem azuis. Não tem a cor do mel nem do céu. Castanhos apenas. Escuros. Cílios longos. Pretos da cor da pupila. A menina dos olhos. O brilho é da noite. De lua cheia atrás das nuvens. De céu sem estrelas de tantas nuvens. Vencidas pela lua cheia cheia de brilho, Como os olhos quando cheio de lágrimas.  Aqueles olhos. De águia. Atentos. Focados. Hipnóticos. Estáticos em movimento. Cada um deles. Olhar profundo. Como tal só os sábios. Olhos desenhados de herança cigana. Janelas da alma. Portais do ser. Transcende imagens em sensações. Em dimensões de olhares aos impulsos do que se sente. Meus olhos. 

Camila Fernanda Caeiro

Foram elas que me apresentaram um velho amigo que ainda não conhecia. Camila, com seu jeito simples de ser, voz suave de tom baixo. Inteligência emocional acentuada. Um ar de compreensão que conforta só com olhar. Fernanda. De senso de humor quase perverso e olhar indignado com tudo àquilo que a incomoda. Expressa uma maturidade que trará muitos tormentos. Especialmente aos que ousarem lhe opor. O velho amigo que eu não conhecia? Chama Caeiro. Alberto Caeiro. A menina Camila e a moça Fernanda perceberam o quanto somos parecidos. Em uma manhã de devaneios sobre o universo, as estrelas, a química e a existência, compartilhei um sentimento pensante. Na curta caminhada de casa pro trabalho, atravessando a rua com nome de alguém que já morreu, em matéria mas não em memória, imaginei o quanto, nós humanos, somos parecidos com as estrelas.   Como o sol, somos feitos dos mesmos elementos. Aqueles da tabela periódica. Somos também movidos por energia. Energia que vem daquilo que c

A Visão do Paraíso - Sérgio Buarque de Holanda - Considerações

Os textos a seguir compreendem um estudo interpretativo da obra de Sérgio Buarque de Holanda. O objetivo é compartilhar comentários e observações a respeito dos aspectos principais apresentados pela obra ao longo de seu desenvolvimento de uma maneira simplificada e acessível à alunos do Ensino Médio e principiantes dos cursos de História. O que não ausenta a necessidade de se estudar a própria obra.   Visão do Paraíso – Prefácio à segunda edição – páginas IX á XXIV A colonização da America, O novo mundo, foi considerada e registrada como a conquista do paraíso. O éden bíblico prometido por Deus. De norte a sul. Entre ingleses, espanhóis e portugueses a concepção e ambição de fazer dessas terras o lugar da liberdade e da prosperidade foi algo comum. Houve, contudo, diferenças fundamentais nas estruturas e estratégias de colonização de ambas. Portugueses e espanhóis compartilhavam a moral e ética católica e estruturas predominantemente feudais. Os ingleses se fundamenta

Lembrança - Por Thaís Fernanda

Lá estava a menina mutilada por suas ilusões, sonhos massacrados pelo príncipe encantado, em uma dança incessante de giros, mão se movendo, pés que não param. Lá estava o menino agoniado pela realidade intensa, era movido pelo “preciso ir pra casa” que enchia sempre sua mente quando procurava a cura de suas feridas. Ali era sua casa. A paz, a loucura, o álcool, as luzes, a música, o cigarro, as drogas. Dançando, girando, gritando. Eles ficaram unidos pelo “lar”. E logo ali ao lado tinha um quarto, o santuário sagrado de uma cidade perfeita, e lá houve a comunhão de feridas, de lágrimas, toques, gritos e prazer. Até que o sol atingiu sua pele, ela acordou do seu sonho perfeito, o cheiro de perfume, cigarro e bebida ela inalou de suas próprias roupas e cabelo; o ato sagrado estava marcado, de uma forma assustadora, fria e linda. Ela fugiu. Algo o queimava tão intensamente que o forçou a sair de seus pensamentos inconscientes, eram os raios solares que saiam da janela. Com sua

Mateologia - Por Fernanda Mota

A vida é efêmera, esquecemo-nos disso constantemente. Passamos os dias a buscar uma razão para vivê-la, ou uma maneira de fugir da realidade incoveniente que é viver. Alguns passam o dia sem pensar, apenas tentando preencher vazios que muitas vezes nem sequer notam que existem . Raros são os satisfeitos e a esses me pergunto se são assim por ignorância. Viver não é fácil, exige lutas eternas e diárias é sofrer o seu quinhão mas causar e comprar também o sofrimento de muitos,  é se frustrar, se desesperar, se entristecer e perder. A vida é como já dizia João Cabral de Melo Neto, severina. Então por que levantar todos os dias da cama para estudar, trabalhar, chorar, se alegrar e morrer mais a cada dia?