Foram elas que me apresentaram um velho amigo que ainda não conhecia.
Camila, com seu jeito simples de ser, voz suave de tom baixo. Inteligência emocional acentuada. Um ar de compreensão que conforta só com olhar.
Fernanda. De senso de humor quase perverso e olhar indignado com tudo àquilo que a incomoda. Expressa uma maturidade que trará muitos tormentos. Especialmente aos que ousarem lhe opor.
O velho amigo que eu não conhecia? Chama Caeiro. Alberto Caeiro.
A menina Camila e a moça Fernanda perceberam o quanto somos parecidos.
Em uma manhã de devaneios sobre o universo, as estrelas, a química e a existência, compartilhei um sentimento pensante. Na curta caminhada de casa pro trabalho, atravessando a rua com nome de alguém que já morreu, em matéria mas não em memória, imaginei o quanto, nós humanos, somos parecidos com as estrelas.
Como o sol, somos feitos dos mesmos elementos. Aqueles da tabela periódica. Somos também movidos por energia. Energia que vem daquilo que comemos, que também é feito de resto de estrelas. Energia que vem também das mesmas estrelas, no caso o sol. Luz, calor.
Também temos, como o sol e todas as estrelas, o dom de emanar energia. Amor, afeto, sabedoria. Da energia que vem das estrelas germinam as plantas. Da nossa germina o humanismo. Humanismo em gente humana.
As estrelas se cansam do universo e explodem. Morrem numa expansão de cores e elementos que vão constituir-se em outras estrelas. Nós, nos cansamos também. Do mundo, das pessoas. De sofrer. Mas não explodimos. Simplesmente morremos. Em matéria.
E nossa energia?... eu mesmo acredito que também se expanda. De um jeito um pouco diferente. Mas parecido.
Talvez se constitua em outro corpo. Talvez em animal. Ou em espírito de luz que dedica sua existência imaterial a ajudar outras pessoas que em matéria são tão apegados a ela. Há as que não aceitam a morte. Fingem ser vivas. Dessas tenho pena. Talvez por isso são penadas.
Nós e as estrelas nascemos. Emanamos energia. Acumulamos energia. Morremos. E é por isso que eu amo as estrelas. E também amo os humanos. E por isso, por amar estrelas e humanos, sempre me senti só. Amar as estrelas e os humanos, as vezes mais que a mim mesmo.
E foi com elas, menina Fernanda e moça Camila que descobri que não estou só. Caeiro se parece comigo. Ou eu me pareço com ele? Tanto faz.
Não sei se me conforta ou incomoda saber que ele, Alberto Caeiro, nem é uma pessoa. Ele, sim, foi Pessoa. O próprio Pessoa. Pessoa dentre de Pessoa. Que também era Fernando.
O Caeiro é agora, com certeza, um eterno amigo. Que mesmo não sendo pessoa é humano como eu. Talvez mais. Justamente por não existir.
Ele gosta de pensar em nada. E sabe que qualquer genialidade por alguém pensada, já o foi por outros.
Ele sabe que Deus é a flor e o rio e a árvore.
E sabe que Deus não precisa ser assim chamado e louvado. Pois se precisasse ou quisesse não seria então Deus.
Ele sabe, como eu sei, que as flores não pensam nem sentem. São apenas flores. E apenas ser flor satisfaz um ego que ela não tem.
E nós, humanos, por sentirmos e pensarmos tanto, tanto sofremos.
Sou grato a vocês. Menina Camila e moça Fernanda. Em todo dezembro, de agora até sempre, lembrarei o momento, que exato não lembro, de ganhar um parceiro, um amigo penseiro, que de verdade não é gente. É pessoa de Pessoa, Alberto Caeiro.
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