Pular para o conteúdo principal

Matemática da desigualdade sem números


Às vezes, quando estou entediado, fico pensando na desigualdade. Talvez, por excesso de conforto e felicidade, me ponha a preocupar-me com os problemas dos outros.

Fico com teorias malucas, sem sentido, que não servem pra nada. Mas mesmo assim insisto. Talvez me faça parecer sensível, intelectual. Como se eu fosse alguém que se importa com os problemas do mundo.

Tento entender a matemática por traz de tudo. Matemática. A desigualdade é uma questão de matemática. 

Não é teoria, política, ideologia, filosofia. É matemática. Poderíamos talvez dizer, por assim dizer, que aquilo que chamamos de riqueza é resultado da soma das coisas que existem na natureza com a força de nosso trabalho, que transforma tais coisas em outras coisas.

 E essas coisas que vem de outras coisas e que geram ainda outras coisas vão se multiplicando na medida da engenhosidade e empenho de quem as multiplica.

Porém, tal engenhosidade e empenho têm um limite humano. Se a propriedade privada é um direito natural a partir do momento em que transformamos algo da natureza com nosso esforço, nossa propriedade privada deveria se limitar a tudo o que é fruto do nosso esforço.

Como pode alguém ficar tão milionário que não consegue nem mesmo gastar tudo que ganha, e mesmo assim continua a multiplicar sua riqueza?

Porque tal riqueza não foi ele quem produziu. Foi o trabalho de outros que foram convencidos de que a terra de onde saíram as coisas que eles transformaram em outras coisas não era deles. E sim de um dono.

E assim, as pessoas que acreditaram que a terra tinha um dono passaram a trabalhar para esse dono. E todas as coisas que transformavam em outras coisas não eram suas, mas sim do dono de onde vieram as primeiras coisas.

Por isso é matemática. Se uma pessoa produz 10 e ganha por 1, pra onde vai os outros 9? Pra alguém que não trabalhou para produzir tais coisas. Alguém que disse que era o dono de onde veio as coisas que foram transformadas em outras coisas que foram transformadas em riqueza.

E assim a produção das coisas, ao longo do tempo, foram adquirindo dimensões matemáticas multiplicativas.

E surgiram donos da terra, donos das árvores, das frutas, dos minerais, das estradas, das fontes de água, de combustível. Donos até das ondas eletromagnéticas. E passaram a vender para os trabalhadores o fruto de seu próprio trabalho.

E os donos se especializaram em um trabalho que consiste em vender os produtos de trabalhadores.

Criaram uma matemática que diz que um trabalhador recebe por uma parte do seu trabalho para o dono sempre possa ter condições de lhe oferecer trabalho.

E os donos criaram leis que protegem os trabalhadores deles mesmos. E criaram governos que cria todas as condições para que os donos vendam cada vez mais as coisas que trabalhadores produzem para os próprios trabalhadores comprarem.

E esse mesmo governo criou condições para que esses donos se mantenham sempre estáveis, com poder para manter os trabalhadores produzindo coisas para que outros trabalhadores comprem.

E os donos vão acumulando uma parte do trabalho de cada trabalhador para garantir que os trabalhadores sempre tenham trabalho. E essa matemática nos convence que os donos, e os governos criados pelos donos, nos protegem e gratificam com benefícios como uma TV com transmissão gratuita de programas de entretenimento aos domingos, um 13º salário e pessoas felizes nas novelas reproduzindo o reflexo da vida dos trabalhadores.

Os trabalhadores produzem todas as coisas que pertencem aos donos. E tudo o que sobra para eles (os donos), falta para as milhares de crianças (filhas dos desempregados) que morrem de fome todos os dias em um mundo onde cães de estimação vivem com mais conforto que humanos. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Hoje é o dia do registro do meu vô.  Zé Nogueira.  Puxador de enxada. Agricultor raiz.  Aquele que planta, rega, aduba, colhe, carrega no carrinho de mão. Nunca gostou de explorar nem criação, como cavalo, mula e burro e boi. Aquele que pega, carrega e vende no carrinho de mão. Com as próprias mãos.  Anos e anos batendo perna na cidade inteira, vendendo e vendendo, à vista e fiado, mas cobrando com classe e gentileza: leva esse e fica devendo 2, dona Maria.  Zé Nogueira.  A pouca memória que tenho como neto dos do meio, é tanta que não cabe aqui.  Mas só sei que é boa. Memória boa. De um neto que herdou coisa boa.  Bença vô!

a questão é ÉTICA. é sempre ética.

  lixo na rua, banheiros imundos, escola vandalizada, colar na prova, furar fila. golpistas de todos os tipos prosperam na sociedade de consumo. Cartão de crédito, boletos falsos, aplicativos e emails com fraudes. Golpe do celular, da casa própria, da funerária, do plano de saúde, do seguro do carro. Golpe atrás de golpe. polícia abusiva. grito, suborno, esculacho e humilhação, as vezes só porque o documento está atrasado, e o seu guarda não foi com sua cara. taxas, impostos e juros pra todo lado. absurdamente. abusivamente. e, por outro lado, propina solta pra fiscal deixar passar bastante contrabando. Celular, queijo, farinha de todos os tipos. É o mercado que gira de tudo, basta ter quem compra. tem mentira e manipulação ao vivo todo dia. tem omissão de informação, tem conchavo de empresa, com polícia, político e chefão de boca e milícia, e até com canal de televisão. Esse país é mesmo exemplo de ORGANIZAÇÃO. tem rádio, TV e jornal, que só informa o que quer. e no final dá no t...

Por que evangélicos neopentecostais odeiam tanto as religiões afro?

Concorrência. Tantos os terreiros e centros de umbanda e candomblé quantos as igrejas neopentecostais se concentram nas periferias e favelas. Elas disputam um mesmo público em um mesmo espaço geográfico. Nas favelas e periferias estão as piores e mais frequentes mazelas. Drogas, violência doméstica, violência do tráfico, violência da polícia, falta de hospitais e escolas decentes. Na favela está concentrado o sofrimento geral que a pobreza causa. E tanto pastores e pastoras quanto pais e mães de santo estão atendendo e consolando essa gente sofrida. Cada uma consola a seu modo. Porém é comum as igrejas neopentecostais declararem ódio e intolerância abertamente contra "macumbeiros" como uma estratégia de manipulação e proveito da ignorância alheia. Um evangélico que mora na favela sempre tem um vizinho macumbeiro. O discurso do medo, do diabo, do feitiço, um pensamento medieval que ainda custa a vida e a honra das pessoas. Um macumbeiro não tem um evangélico como inimigo, a ...