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O nosso Candomblé

Consciência Negra vem da arte, música, culinária, moda, adereços, cabelo, jinga, ritmo. Vem da língua e dos sotaques. Dos verbos e substantivos. De Angola, congo, benguela, monjolo. Vem do Iorubá e do banto. De Oyó, Ketu, Ilê Ifé. Consciência Negra vem do Candomblé. Do nosso candomblé. Que reúne tudo isso e mais um pouco.   No nosso candomblé tem moda. Panos, cores, laços e bordados. Uma verdadeira exposição de moda e design em que as belíssimas mulheres não precisam se valer de padrões, de corpo, de cor ou cabelo, mas apenas de sua natural feminilidade composta pela arte dos panos em seu corpo. No nosso candomblé tem culinária. Amalá, Acarajé, Acaçá. Dendê, deburú, axoxô. Omolocum, Eboyá e aruá. Tem comida pra dar pro povo, pro corpo e pro ancestral. É comida de santo sagrada, agradecida e rezada. No nosso candomblé tem artistas. Tem músicos, ritmistas, percussionistas com tamanha maestria que conseguem fazer você deixar de ser você só com o baque do ata...

a palavra

Palavras – Alan Geraldo E você o que tem feito com suas palavras? Ou melhor, o que tem feito com as palavras que lhe dão?   Nada é mais importante em nosso processo evolutivo do que a palavra A fala. O verbo. A linguagem A linguagem falada com sons Gestos e expressões Faciais e corporais. Que evoluiu então para a linguagem escrita Prosa, poesia, narrativa Da linguagem nasceram cantos Cantigas e cânticos Com a palavra o homem descobriu Deus O verbo divino Amém, axé, aleluia O verbo da magia Abracadabra. E Deus fez o homem também pela palavra A palavra que canta, encanta A palavra que faz lei e faz desordem A palavra que ofende, destrói e corrompe A palavra que eleva, inspira e constrói A palavra que conquista o amor de toda vida Que educa filho, consola idoso. A palavra realiza a conexão das cabeças A palavra diz o se passa no coração A palavra arrepia, acelera e contagia Ódio e amor Depende de quem diz pra que...

Minha redação - ENEM 2016

A intolerância é uma mazela social proveniente da não aceitação do outro. Do diferente. A intolerância é diretamente proporcional à ignorância. Ela é sustentada por conceitos equivocados, calúnias, má interpretação de significados e de doutrinas religiosas. Mas diria que a intolerância religiosa tem um forte aliado. Uma mídia intolerante. Relembro aqui a tão popular Raquel Sheranazi que lançou: Adote um bandido. https://www.youtube.com/watch?v=p_F9NwIx66Y  Logo no mesmo ano, uma mulher foi linchada até a morte por um boato que a acusava de sequestrar uma criança para rituais de feitiços e macumba.   http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-morta-apos-boato-em-rede-social-e-enterrada-nao-vou-aguentar.html  O grande crime deste drama todo, e de outros decorrentes desse incentivo à violência, foi da jornalista. Ela foi a criminosa, junto com os que violentaram e assassinaram. O sangue desta mulher, e de outras vítimas, de ambas as classes sociai...

Amo e amei

Se um dia pudesse ser alguém que amo ou amei Pra ter ideia do quanto eu seria amado Se fosse eu a pessoa que amo ou amei. Se eu pudesse ser alguém que amo ou amei para ter ideia do quanto já gastei pensamentos e batimentos. Suspiros, risadas e sofrimentos. Quanta dor e alegria sinto e senti cada vez que amei algo ou alguém. Amo e amei muitas pessoas. De diferentes maneiras, em diferentes medidas, com diferentes mutualidades. E continuarei amando. E nos meus momentos de solidão é quando mais amo. E solidão daquela que vem de dentro é a que mais incomoda. Ela vem não importa onde, nem quando ou com quem. Ela vem. Cercada de gente e barulho, mesmo assim ela vem. E eis que a vida, de repente se resume em suportar solidões. Expectativas abstratas de necessidades futuras que ainda não existem. Amo e amei tudo que fiz, mas nem tudo que errei. Erros não são para ser amados. O resto eu amo e amei. Gente, planta, bicho, mato. Um dia me disseram sete estr...

O que faz meu existir?

Não há lugar mais solitário do que as multidões urbanas de nosso tempo. A rotina do trabalho na babilônia paulistana aglomera melancolias e sofrimentos. Frustrações e vícios. Aglomera rostos e olhares que denunciam sofrimentos acumulados. A textura da pele e as olheiras acentuadas expressam o nível social e os possíveis ofícios de cada um. A estudante de pele macia e maquiagem moderada. Domestica de idade avançada e mãos grosseiras. O enfermeiro vertido de branco com a expressão de noite acordada. O vendedor ambulante com a sacola escondida, atento aos guardas que não guardam quase nada além das ordens dadas por quem manda e desmanda. Cada uma das pessoas fazendo aquilo que lhe resta dentro dessa máquina que chamam se sociedade capitalista. Fazendo o que lhe é mais necessário, e talvez mais digno. Aquilo que lhe escraviza, e talvez liberta: trabalho. Pessoas sendo consumidas para sobreviver ou para enriquecer. Pessoas se consumindo escravizadas por sua pobreza ou por sua ava...

E lá se vão

E lá vão lágrimas ao vento. Há sensações indescritíveis em certas passagens da vida. Sensações que só o tempo nos impõe. Sensação de tempo vivido. Geração transpassada pelo relógio. Lá se vai a juventude do cachorro, cego, surdo e sem dentes. Do cavalo que de tão velho nem mais consegue trotar. Do mato de espinho invadindo um pomar que quase não dá. A casa cheia de pó. Um fogão de lenha que uma floresta inteira já transformou em brasas.   Ele agora é frio, sem cheiro, sem fogo sem nada. Até aquela árvore de copa sombrosa agora é pau podre sem vida, sem folha nem sombra. A vovozinha, passo por passo, na lentidão de um corpo ultrapassando quase uma dezena de décadas. Tempo resumido uma vida humildade das gentes da roça, de vida simples e pacata. E lá se vão lágrimas de saudade. Lá se vão voltas de relógio e de estação. Lá se vai a juventude das coisas. Lá se vão esvaindo os vestígios de memórias e sensações. Lá se vai o tempo.

O que nos resta

E o que nos resta pobre cidadão pobre. Resta-nos tocar a vida com dignidade. Ganhar o pão de cada dia. Compartilhar mais exemplos que ideias. Resta-nos ser honestos. Garantir o pão de cada dia. Não se entregar ao consumismo que só nos consome, nem à vaidade que só nos afoga. Resta-nos fazer da própria profissão uma ação digna de qualquer ofício. Digna de memória pela contribuição de si mesmo para algo além do próprio interesse.   Resta-nos a luta contra os preconceitos e intolerância. Apreciar as artes. Valorizar os outros. Elogiar os amigos. Amar as crianças. Resta-nos viver cada dia sendo uma pessoa que faz alguma diferença entre as outras pessoas. Resta-nos sermos nós mesmos. Resta-nos continuar influenciando as outras pessoas pelo exemplo mais que por palavras. Resta-nos compreender os tolos e não odiá-los. Resta-nos ser amáveis com os humildes. Resta-nos a consciência de que a luta continua. Ela é incessante e cotidiana. A luta contra si mesmo. Contra...