Te dizem que o país está quebrado. Te dizem quem é o culpado. Te obrigam a pagar tudo dobrado, trabalhar até morrer, comer veneno, e ser mal pago. Te dizem que o sacrifício é de todos e que Deus está do nosso lado, exceto de quem vive no pecado. Te fazem acreditar que se tudo der errado é porque você não tem se esforçado. E se properar na riqueza é por tanto ter trabalhado, sendo herança foi trabalho acumulado. E se a desgraça for por doença e fatalidade, reza e pede perdão, pra sofrer menos, se o dinheiro não sobrar pra mais nada além do pão.
Hoje é o dia do registro do meu vô. Zé Nogueira. Puxador de enxada. Agricultor raiz. Aquele que planta, rega, aduba, colhe, carrega no carrinho de mão. Nunca gostou de explorar nem criação, como cavalo, mula e burro e boi. Aquele que pega, carrega e vende no carrinho de mão. Com as próprias mãos. Anos e anos batendo perna na cidade inteira, vendendo e vendendo, à vista e fiado, mas cobrando com classe e gentileza: leva esse e fica devendo 2, dona Maria. Zé Nogueira. A pouca memória que tenho como neto dos do meio, é tanta que não cabe aqui. Mas só sei que é boa. Memória boa. De um neto que herdou coisa boa. Bença vô!
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