Pular para o conteúdo principal

Candomblé não é magia

O Candomblé é um misterioso tabu para a maioria das pessoas que só conhecem de nome, de ouvir falar. As pessoas (muitas vezes até  umbandistas) imaginam que o candomblé é a mais profunda magia. Uma mistura de feitiçaria com possessão e transe. Muitas vezes, nós candomblecistas, somos vistos como pessoas com superpoderes, capazes de fazer mágicas.  Esse imaginário de bruxaria misturado com satanismo que prática rituais de sangue é o rótulo posto pela sociedade sobre o Candomblé. 

Candomblé não é magia, não é seita secreta, e nem confere super poderes a quem se inicia.

O Candomblé é uma doutrina espiritual/religiosa que pratica o culto e a conexão com a natureza, com a ancestralidade e com o mundo não material.

O Candomblé é o resultado histórico de um sincretismo que tem raízes na África e que se aprofunda nos quilombos, nas senzalas, nas periferias urbanas e "se organiza" como religião ao longo da lenta "libertação" de escravos nos entornos das grandes cidades como Salvador, Rio de Janeiro, São Luís, Recife.

O Candomblé é também uma religião essencialmente feminina e feminista (apesar dos tabus de gênero existirem em sua prática). Mulheres alforriadas e nascidas livres foram responsáveis pela iniciativa de organizar um culto ancestral banto/iorubá.  Mulheres,  na maioria estreitamente ligadas à igreja católica (paróquias em bairros negros e irmandades de santos católicos de tradição  negra).

O Candomblé é também uma religião social. Acolhia e alforriava negros fugidos ou libertos mas sem ter pra onde ir. As roças de candomblé acolhiam jovens solteiras grávidas, órfãos, pessoas lgbt.

O Candomblé é um acervo imaterial de ritmos, cantigas e cânticos que preservam e misturam línguas Banto, iorubá, português e até vocábulos indígenas.  É um acervo de culinária, vestimenta, estética corporal. 

O Candomblé tem seus gestos e códigos de conduta.  Seus símbolos, sua mitologia e teologia com metáforas e personagens.  Tem sua ética e moral própria. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tem agente que não é gente.

O conceito de agente público, servidor público, é um dos alicerces fundamentais do processo civilizatório que o Brasil quase não tem. Um agente público serve o público, defende o público, o interesse, os direitos, a segurança, os corpos e os lares do público. Público é o conjunto de cidadãos que pagam os impostos, que por sua vez pagam os salários, aposentadorias e todos os recursos para que existam as instituições públicas. Só que o agente precisa ter esse conceito e essa "crença" no papel social do SERVIÇO público. Antes de reparar no pior, vamos reparar no melhor. Se existe escola, hospital, coleta de lixo e outros serviços públicos que funcionam, bem ou mal, é graças aos bons servidores públicos. Se ainda há crianças aprendendo a ler e escrever, hospitais atendendo pessoas é graças aos bons servidores públicos. E a coisa toda, da polícia ao sistema funerário, só não é melhor por causa da quantidade enorme de pessoas despreparadas moralmente, psicologicamente e intelectua...

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil – Por Alan Geraldo Myleo As informações que seguem foram retiradas do livro de Pierre Verger – Orixás – Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. A construção dessa linhagem que segue gera, até hoje, muitas divergências pois, além se serem baseadas em versões orais, envolvem uma certa vaidade devido a importância histórica, social, cultural e religiosa que envolvem tais versões. 1º Terreiro de Candomblé Kêto (oficialmente reconhecido) (Primeira metade do séc. XIX) Ilê Axé Iyá Nassô Oká Barroquinha, Salvador – BA 1ª Yalorixá - Iyá Nassô 2ª Yalorixá – Marcelina Obatossí 3ª Yalodê ou Erelun(como era conhecida na sociedade Geledé) Nome de batismo: Maria Júlia Figueiredo Obs: essa é considerada a primeira linhagem da Nação Kêto fundada com o auxílio do Babalawô Bangboxê Obiticô. Segundo algumas versões orais, YáNassô era uma das três princesas vindas do Império de Oyó( junto com Yá Acalá e Yá Adetá) que foram alforriadas por...

A Classe Média e a Manutenção da Desigualdade

A classe média brasileira é, atualmente, a mais numerosa entre as classes sociais existentes hoje. Nossa divisão social atualmente é representada pela seguinte tabela: Fonte: http://controle-financeiro.blogspot.com.br/2008/01/diviso-de-classes-sociais-no-brasil.html De acordo com o site R7 “Mais de 29 milhões de pessoas entraram para a classe C entre 2003 e 2009. Com isso, a chamada classe média passou a ser composta por 94,9 milhões de pessoas, representando 50,5% da população brasileira, segundo estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas)”. (fonte: http://noticias.r7.com/economia/noticias/classe-media-do-brasil-ja-representa-mais-da-metade-da-populacao-20100910.html )              Tal classe média tem importantes representações. Economicamente representa a classe mais consumidora. O principal público do consumismo de massa. É a mola propulsora do capitalismo industrial, dos meios de comunicação em massa e de entretenime...