Qual é o retrato do ladrão
Que rouba tudo todo dia
Dessa gente e desse chão?
Qual é o retrato do ladrão?
É o moleque de boné
Fechado com capuz
Um tênis florescente
A calça baixa na cintura
Um 38 e 7 balas
Dentro um corpo quase sempre
sem dinheiro e pele escura.
Qual é retrato do ladrão?
É o moleque com boné
Calça baixa
Pele preta e com gingado no andar
Que fala abusado
Bota o queixo pra cima
E o dedo pra baixo
Em posição de atirador
Mete o loko e te encara
Manda gíria e esculacha.
Qual é o retrato do ladrão?
Boné com tênis colorido
Corretinha ostentação
Faz pose no instagram
Curte moto e carrão
Whisy e gelo no copão
E tudo mais, tudo que há
que pode deixa doidão.
Qual é o retrato do ladrão?
Os meninos quase todos
Pretos, pardos, periféricos
Tem boné e bermudão
Curte funk ostentação.
Só que tem menino bão
Confundidos com ladrão
Pretos, pardos, periféricos
Que não roubam e nem matam ninguém não.
Mas a cara e o retrato
desses menino bão
É de fato semelhante
Ao retrato do ladrão.
E o retrato do ladrão
É o tipo estéreo, tipo único
Que amedronta uma nação
O moleque de boné
Capuz fechado e correntão
É o mais treta da nação
é mais foda que chefão
com cargo de deputado
Delegado e cafetão
Os moleques metem medo
todo dia, sem segredo
São mais bravo que jagunço
lá do meio do sertão
Que obedece coronel
Que explora muita gente
Em condição de servidão.
Os moleque lá da rua
São mais treta que os capanga
de empresa garimpeira
que mata índio, quilombola e ativista
Por todo nosso sertão
Os moleques, retratos de ladrão
Causam indignação
No marmanjo e no machão
Que abusa, estupra e mata
Como se fosse diversão.
Aborta ou abandona
A criança inocente
Que veio da semente
De uma foda inconseqüente
Os moleque da cidade
Dão mais medo, de verdade
Do que gente que tem mente
tão demente que defende
Até tortura e pau de arara.
E grita que chicote
É bom no lombo do ladrão
Por que é o que resolve
E ensina a lição
Para o ladrão que é quase sempre
Preto, pardo periférico
Do tempo da escravidão.
O retrato é repetido
estereótipo resumido.
Mas nessa terra o que não falta
É tipo de ladrão.
Tem malandro 171
Clonadores de cartão
Batedores de carteira
De prateleira de mercado
Assaltante de velhinhos
Agiotas e laranja
Golpe de seqüestrador
telemarketing e vendedor.
Contrabando e extravio
de CPF e identidade.
Tem ladrão que até assusta.
Paga de bom cidadão
Mas vende até a mãe
A troco de qualquer vantagem.
Quando pode ou quando quer
Pirateia e disfarça
Bilhete, atestado,
identidade e Aparência
até o passado e a idade.
Dá pra ser ladrão de água
TV a cabo e internet
e até de eletricidade.
Dá pra ser ladrão de vida
Comprando até vida de gente
Por qualquer mera merreca
Tem quem se vende todo
Pra pagar feijão com arroz
Enquanto outros ladrão
só vivem no “bem bão”
Roubando até merenda
Gente preta, parda e pobre
Que não sabe o que fazer
Quando vê de camarote
O filho virar ladrão
Vagabundo e traficante.
Tem ladrão de todos os tipos
É fácil aqui nessa nação
É quase regra
Todo dia
Passa na televisão
Mas o retrato é de um só
O retrato do ladrão
É o moleque de boné
Que rouba e mata porque quer
A maldade é natureza
E esses pobres, pretos, pardos
Não fazem por merecer
Já nasceram todo errado
Tão fadados a morrer.
Então mata esses moleques
Essa é a solução
Só não enxerga quem não quer
Jà está dito e repetido
Que remédio pra ladrão
É polícia, soldado e munição
Cadeia, chicote e punição.
Ou então adote um
Já que gosta de ladrão.
Vai estar tudo resolvido.
Até lá a gente agüenta
Assiste, aplaude e aceita
Que o ladrão é o moleque
Preto, pardo periférico
Que resume e que assume
O papel de terrorista
Que toca medo e confusão
Jogando na nossa cara
A verdade limitada
Do retrato do ladrão.
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