Até que ponto pensamos na imagem que queremos passar e na
que realmente passamos de nós mesmos nas redes sociais? Em todo tipo de
comunicação há uma perigosa distância entre o que se fala e o que se mostra e
da maneira como os outros veem, ouvem e interpretam. E essas redes sociais
potencializaram nossa auto expressão e exposição demasiadamente.
Antes, me lembro eu, quando adolescente vivia quase sempre
só, com meu violão, minha flauta, um caderninho, as vezes um livro (gostava
mais de pensar e contemplar do que de ler). Pensava, escrevia, refletia,
crescia, “viajava”... Comigo mesmo. No interior de minas, quase sempre no mato,
na roça, andando a cavalo, a pé ou de bicicleta. Não tenho quase nenhum
registro fotográfico desses momentos. Não sentia a menor necessidade de expor
para as pessoas o que fazia, o que eu pensava (as redes sociais não existiam,
pelo menos no meu mundo). E isso, de certa, forma me dava liberdade. Liberdade
em relação a mim mesmo. Não existia a menor possibilidade de me preocupar em
mostrar para os outros o que eu era, o que pensava, o que fazia. Não havia
preocupação em “o que” os outros vão pensar.
Hoje, paulistano, com círculos sociais... profissional,
religioso, familiar, cercado por centenas de crianças e adolescentes todos os
dias, por dezenas de colegas de trabalho, família religiosa e conjugal, me vejo
preso (tentando me libertar, mesmo que parcialmente) de uma verdadeira
escravidão, vício talvez, dessa frenética “falsa necessidade” de estar conectado
a tudo e todos. Conexão que, inclusive, coloca em situações de conflito tais
círculos (como minha religião e meu trabalho, por exemplo). Postando fotos,
opiniões, compartilhando leituras, poemas, vídeos. Mesmo não postando o que,
como, onde estou, com quem estou todo o tempo. Mesmo ainda preservando o máximo
minha vida pessoal, e as pessoas que fazem parte dele, tudo isso também acaba
sendo exposto.
Mas, volto à reflexão inicial. Será que as pessoas me veem
como realmente sou nessas minhas variadas expressões e exposições? Até que
ponto me faço parecer um cara legal que tem bom gosto e quer apenas
compartilhar coisas que gosta¿ Ou me faço parecer ridículo, vaidoso, chato e
arrogante insistindo em opiniões, pontos de vista e auto exposição? Até que
ponto não tento insistentemente mostrar paras pessoas que tenho opiniões que
outros não tem, mas deveriam ter? Que tenho gosto artístico e musical que os
outros não tem, mas deveriam ter? Que tenho uma vocação poética que os outros
deveriam admirar? Etc..
Percebo que hoje, passo menos horas comigo mesmo. Passo
menos horas lendo pra mim mesmo. Pensando em mim mesmo. Pensando e me atentando
às pessoas que estão à minha volta “realmente”.
Em outros países, as redes sociais serviram para mobilizar
levantes e deposições de verdadeiras tiranias. Egito, por exemplo. E no Brasil,
pra que realmente serve tanto uso de redes sociais?
Obs: Como será que as pessoas lerão isso ¿ Uma reflexão
importante e útil pra si mesmo¿ Ou uma ridícula contradição por estar acabando
de criticar tal ação¿
EXPRESSÃO, DISTORÇÃO, INVERSÃO, CONTRADIÇÃO.
QUANTO MAIS NOS EXPRESSAMOS MAIS NOS CONTRADIZEMOS.
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