Sobre Religião
A
religião é um dos grandes fenômenos humanos que compõem as dimensões de
organização das sociedades. É também uma das mais essenciais manifestações da
racionalidade. A razão humana, desde nossa existência, se dedica
em explicar. Explicar tudo. A ciência moderna alcançou teorias, comprovadas ou
não, para a existência de tudo. Ou melhor, quase tudo. Uma das coisas que não
há explicação comprovada é, por exemplo, a origem do Big Bang. Sabe-se que
existiu. Sabe-se que antes dele era nada. Então de onde veio? Do nada? Como
pode algo vir do nada? Assim sendo o pensamento científico associa tal origem
ao mistério da criação, ou seja, DEUS. Isso não passa de uma repetição do
pensamento lógico. Quando nos tornamos animais pensantes passamos a buscar
explicações sobre tudo. E tudo o que não conseguíamos explicar, automaticamente
e inconscientemente, associávamos a Deus. Deus então representa a força
criadora, o mistério da criação, que recebeu muitos nomes de acordo com cada
cultura.
A ciência moderna já provou
que somos infinitamente pequenos perante o universo. Perante tamanha
grandiosidade somos muito pouco significativos. Assim sendo podemos dizer que
Deus não atua diretamente sobre nós. Não é onipresente e onipotente em nossas
vidas.
É preciso estabelecer as
diferenças, assim como as relações existentes entre a idéia de Deus e a
espiritualidade. Deus é uma abstração. A idéia de Criação. Aquilo que tudo
criou. O Mistério. A Natureza. Já a Espiritualidade é o cultivo e a crença na
existência de vida após a morte, que através da mediunidade, ou seja, a
capacidade de contato ou relação direta, e/ou indireta com espíritos, é
praticada como um exercício religioso. Os espíritos podem ser considerados
energias humanas não-materializadas.
Podemos associar acontecimentos,
situações e manifestações misteriosas ao espiritualismo, ou seja, à permanência
e influência do espírito, ou alma, após a morte material.
Na natureza nada se cria
nada se perde tudo se transforma.
A energia é base de toda a
existência, material e imaterial, que paira no universo. Isso é comprovado. Ela
se processa e desenvolve em infinitas formas. Umas das principais formas é a
vida, a energia vital que também se dá em muitas outras formas.
A espiritualidade humana se
dá sob dois fatores principais: a energia vital universal e a consciência
humana. Dois mistérios que se somam. O mistério da energia vital e o mistério
do cérebro humano. Uma massa orgânica com impulsos elétricos que é responsável
por toda a capacidade intelectual que nos diferencia de todas as outras formas
de vida. Quando um ser humano se desmaterializa ele carrega consigo todo o
conhecimento acumulado em vida proporcionado pelo do funcionamento de seu
cérebro.
O espiritualismo se dá
pelas transformações, movimentos e permanências das formas de energia. A
maioria das religiões antigas como o Budismo, Hinduísmo, culto aos Orixás e os
muitos cultos ancestrais dos povos americanos (indígenas) direcionavam suas
doutrinas e ritos sob a lógica da permanência e transformações do espírito
humano, da energia vital humana. Tal movimento é também entendido como algo que
adquire ou não algum tipo de evolução, sendo tal evolução de acordo com a
consciência. Exemplo: o carma das religiões orientais se sobrecarrega ou se
ilumina de acordo com o tipo de vida e consciência enquanto materializado.
Nos seres humanos, enquanto
energias materializadas e com consciência, dispomos da atuação e contato com
energias humanas não materializadas, o que chamamos de mediunidade. Ou seja,
nossa consciência permite uma relação diferenciada com tais energias, e, como
já disse, é isso que chamamos de espiritualismo.
Os espíritos, ou energias
humanas não materializadas em diferentes níveis de desenvolvimento atuam
constantemente entre nós. Ao longo da história da humanidade alguns desses
espíritos se destacaram por seu alto grau de evolução da consciência enquanto
vivos, materializados. Como os Orixás africanos, Buda, Jesus, Doutor Fritz,
Chico Xavier, os santos católicos e outros. Agora continuam atuando para a
melhoria da humanidade, pois ainda são energias humanas não materializadas e
altamente evoluídas, por isso, divinizadas. Assim muitas outras energias
humanas desmaterializadas, como as inúmeras entidades, continuam trabalhando em
prol da humanidade.
Da mesma forma em que
espíritos evoluídos atuam para a melhoria, existem espíritos não evoluídos, ou
sem luz, que atuam de forma negativa. Isso se dá por vários motivos, como pela
falta de consciência de sua própria morte, ou por ter passado por um tipo de
vida que não proporcionou uma evolução espiritual, ou seja, evolução de
consciência em matéria. Muitos espíritos permanecem entre nós em busca de
energia vital. Acompanham pessoas comuns causando negatividade, podendo afetar
em vários aspectos da vida e do cotidiano.
As concepções sobre Diabo,
trevas, espíritos enquanto manifestações de Satanás seguem a tradição
Judaico-Cristã de opostos que não convivem e não geram movimentos, ou seja, o
mal precisa destruir o bem e vice-versa. Isso contraria a concepção científica
em relação às energias e aos fenômenos naturais. Ao contrário desse pensamento,
a maioria das correntes religiosas e suas bases filosóficas acreditam na necessidade
dos opostos. Não existiria o “bem” sem o “mal”, portanto o bem depende do mal e
o mal do bem.
A convivência dos opostos
na mesma entidade é uma das idéias que permeiam a linha do pensamento religioso
das religiões de culto aos Orixás, como o Candomblé. Assim Exú - associado ao
diabo pelo sincretismo – tem atribuições positivas e negativas, assim como
Oxalá – associado a Jesus – tem também suas atribuições positivas e negativas
na perspectiva candomblecista.
A idéia de trevas, inferno
e diabo provinda da concepção Judaico-Cristã separa a necessidade de
convivência dos opostos dentro do pensamento religioso, ético e filosófico do
mundo cristão. Isso vai contra o pensamento racional que caminha juntamente com
várias outras religiões e também com o desenvolvimento da ciência.
As tradições orientais
reunidas no Budismo também seguem a concepção da existência mútua dos opostos,
da evolução do espírito e da iluminação da consciência do ser (material ou
imaterial). Tal concepção nada mais é do que o racionalismo conduzindo o
pensamento religioso com base no princípio da energia e da consciência humana.
O pensamento
Judaico-Cristão construído pelo catolicismo e pelo protestantismo é o
pensamento que mais se distancia da racionalidade. Segundo esse pensamento as
contradições existentes no Universo são estáticas. Destroem-se e não geram
movimento. E foi esse o pensamento que ofereceu as bases das principais
instituições religiosas que mais causaram morte e sofrimento à humanidade, que
dominam o mundo nos dias de hoje e que estão diretamente associadas às alianças
políticas e econômicas. São elas as instituições católicas, as islâmicas e as
protestantes. Sempre com o princípio de bem e mal como base ideológica e
justificadora da relação entre dominante e dominado.
Contudo é necessário
reconhecer que os conflitos e polêmicas estabelecidos em relação à harmonia
entre fé e razão são desnecessários. O espiritualismo, a existência de uma
força criadora, o grande mistério da vida e da consciência humana são fatores totalmente
interligados e mútuos.
É necessário entender as
religiões também com uma expressão derivada e influenciada pela dimensão
cultural. A diversificação das formas de se relacionar com o mundo espiritual
ocorrerem proporcionalmente à diversificação dos grupos humanos. Cada etnia,
cada civilização, cada sociedade criou ou recriou os significados e expressões
que compõem a prática religiosa. Considerando que a prática religiosa consiste
em qualquer relação com o mundo espiritual, a cultura de cada povo estabelece
as formas, as maneiras, os símbolos e os rituais que cada expressão realiza.
Portanto reafirmo que a religião é um fenômeno humano que se constitui a partir
de expressões culturais. A essência das religiões á a mesma. O que se modifica
são as expressões e valores que se constroem às partir das relações estabelecidas
entre os grupos humanos.
Ao longo da história da humanidade
a religião se tornou um dos principais mecanismos de manutenção de poder. As
teocracias que se constituíram ainda na transição da pré-história para a
história basearam-se na apropriação de Deus pelo Homem. Ou seja, quando os
chefes de governos passaram a se auto intitular
“Deus” ou um descendente direto dele, grandes impérios surgiram. Esses, tais como os faraós egípcios, construíram relações de poder baseadas no medo de Deus. No castigo e na punição. Esta estratégia se perpetuou e ainda vigora nas instituições religiosas do mundo contemporâneo. O papa, os padres, pastores, gurus, e sacerdotes em geral assumem um papel de representantes de Deus. Aqueles que falam em nome Dele.
“Deus” ou um descendente direto dele, grandes impérios surgiram. Esses, tais como os faraós egípcios, construíram relações de poder baseadas no medo de Deus. No castigo e na punição. Esta estratégia se perpetuou e ainda vigora nas instituições religiosas do mundo contemporâneo. O papa, os padres, pastores, gurus, e sacerdotes em geral assumem um papel de representantes de Deus. Aqueles que falam em nome Dele.
Porém é um grande equivoco
atribuir um caráter negativo à religião, enquanto fenômeno que é, com base na existência
de tais coisas. Primordialmente, as religiões se manifestam pela existência de
um mundo invisível. De algo além da matéria que atua conscientemente entre nós.
Parte também da noção de ancestralidade. Esse invisível, citado anteriormente,
são os mortos. Os antepassados. Aqueles que continuam a orientar, proteger e
perpetuar as tradições e os ensinamentos construídos ao longo das gerações. É o
conhecimento acumulado sendo perpetuado pelo contato entre o mundo espiritual e
material. Há também a questão das restrições litúrgicas enquanto zelo
individual pelo corpo físico, mental e espiritual. Uma proibição de alimento,
ou bebida, justificada como preceito religioso é nada mais do que uma proteção
ao corpo. Uma restrição comportamental como “não desejar a mulher do próximo”
nada mais é do que uma referencia a valores éticos e morais necessários à
dignidade humana. Portanto, a religião vem cumprir um importante papel de fonte
primária de valores morais e éticos tão essenciais à convivência humana. É fato
que tais valores são ressignificados e distorcidos de acordo com as intenções e
necessidade de um grupo que se coloca na posição dominante.
A ideia de Deus único, onipresente,
onisciente e onipotente, à imagem e semelhança do homem, é predominante no
ocidente e construído a partir de princípios hebraicos. Porém há outras concepções.
Nem todas as religiões prestam cultos a
Deus. Nem todos compartilham da ideia de que há uma consciência divina que nos olha, julga e pune. Muitas, tais como as de matriz afro, que vigoram no Brasil, ou as matrizes indígenas da américa e até mesmo as correntes orientais como Hinduísmo e Budismo. Nessas expressões religiosas há o direcionamento de cultos e rituais a ancestrais, forças da natureza, seres antropozoomorfos, semideuses com características morais humanas.
Deus. Nem todos compartilham da ideia de que há uma consciência divina que nos olha, julga e pune. Muitas, tais como as de matriz afro, que vigoram no Brasil, ou as matrizes indígenas da américa e até mesmo as correntes orientais como Hinduísmo e Budismo. Nessas expressões religiosas há o direcionamento de cultos e rituais a ancestrais, forças da natureza, seres antropozoomorfos, semideuses com características morais humanas.
O fato é que em todas as religiões há contradições.
E quem cria as contradições são os próprios homens. Toda religião é boa. Ruim
são as pessoas que fazem uso delas para o poder, a vaidade, a manipulação. Seja
para fins econômicos, políticos ou pessoais.
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