A
construção das estruturas capitalistas conquistaram seus alicerces mais sólidos
através da dívida. Não foram satélites, bombas nucleares, nem ditaduras. Foi simplesmente
a dívida. As instituições responsáveis por guardar dinheiro criaram uma
estratégia de multiplicar a riqueza sem produzir riqueza. Ou seja, produzir dinheiro
utilizando dinheiro. Para entender isso é necessário compreender que a moeda
(em papel ou metal) não é a riqueza. E sim a representação dela como citado em
outro capítulo. Portanto a criação de dinheiro a partir do dinheiro é algo incompatível
com a lógica racional de equivalência entre riqueza material produzida pela
agricultura, indústria e comércio com a quantidade de dinheiro existente nas
contas bancárias, em cofres ou em sistemas virtuais de computadores.
Nas
origens do sistema monetário temos uma simples utilização de objetos pequenos, portáteis,
que não podem ser facilmente produzidos ou falsificados. Búzios, penas, pedras,
brilhantes, prata e ouro. O ouro e a prata acabaram sendo convencionados por
sua maleabilidade e beleza. Então surgiram os ourives. Aqueles que transformam
o ouro em moedas de valor específico com símbolos oficiais. O armazenamento de
uma grande quantidade dessas moedas tronou-se um tanto quanto perigoso. E então
alguns senhores, proprietários de castelos fortificados passaram a prestar o serviço
de guardar o ouro de pessoas que buscavam maior segurança para seu dinheiro. Logo
os donos destes cofres perceberam que os depositantes quase nunca retiravam o
dinheiro, e quando acontecia, nunca o faziam ao mesmo tempo. Isso porque os proprietários
estavam negociando com os recibos dados pelo dono do cofre. Assim surge o papel
moeda. Mais prático e leve. Além de permitir a anotação de qualquer valor. Isso
levou a prática do empréstimo. Cada vez que alguém pedia dinheiro emprestado o
ourives (ou o dono do cofre) emitia um recibo em papel para que a pessoa
pagasse com juros. Isso começou a gerar muito lucros. Então evoluiu. Passou-se
a emprestar o dinheiro dos depositantes, sabendo que eles nunca tirariam o ouro
ao mesmo tempo. E a cada empréstimo de um dinheiro, que não era próprio, gerava-se
muito lucro. E assim surgem os bancos e os banqueiros.
A
media em que as relações comerciais foram avançando e se intensificando com a
chegada da idade moderna, com o fortalecimento da burguesia e a expansão marítima,
essas transações monetárias avançaram. Os legisladores dos governos mercantilistas
legalizaram tal prática para impulsionar as atividades comerciais. E tais transações
tinham um outro aspecto. Emprestava-se mais dinheiro do que havia em forma de
outro. Foi estabelecido um limite de 9 para 1. Ou seja, a cada moeda de ouro depositada
o banco poderia emprestar nove. E o pagamento que o credor se comprometia a
quitar implicava em juros. Rapidamente as corporações bancarias se tornaram
fontes milionárias de renda multiplicando um riqueza a partir de um dinheiro
que não existe. Esses banqueiros corriam apenas um risco. Que á a chamada “corrida
ao banco”. Isso se dá quando todos os depositantes vão ao banco ao mesmo tempo.
Assim o banco que emprestou dinheiro que não existe vai á falência. Para que
isso não ocorra, o estado criou o Banco
Central, que armazena o dinheiro de todos os bancos. O banco central socorre
enviando o dinheiro de outros bancos. Com esta estratégia só haveria um colapso
se todos os correntistas e donos de poupança retirassem todo o dinheiro de
todos os bancos ao mesmo tempo. Essa lógica e estrutura se deu no inicio dos bancos.
Hoje a coisa está bem mais complexa do que isso. A complicação se dá pela tecnologia.
As cifras virtuais aumentaram ainda mais a capacidade de gerar dinheiro de
outro dinheiro que não existe.
O
ouro deixou de existir como equivalente do papel moeda. Um cifra virtual o substituiu.
O que temos hoje é o dinheiro de papel e o dinheiro eletrônico. Antes das tecnologias
da informação todo papel moeda emitido deveria ser equivalente às riquezas materiais,
no caso ouro e prata. Hoje é o clico de empréstimos que geram o dinheiro.
Inicialmente
havia a regra de 9 para 1. A cada 1000 reais depositados se emprestavam 9000
reais. Quando se pega um empréstimo de 9000 reais para comprar algo desse valor
com um cheque ou uma transferência, o vendedor deposita esse valor no banco.
Automaticamente o banco cria mais 81000 disponíveis para empréstimo. E todos os
empréstimos com juros acrescentados. E assim consecutivamente. Desse modo o
enriquecimento dos banqueiros se dá pelos juros. Pois, para que o devedor pague
é necessário trabalhar e produzir. O trabalhador retorna ao banco uma quantia
que o banco nunca teve realmente e acrescenta os juros. Tudo isso é sustentado
pelo governo. Os próprios governos dependem desses empréstimos criados pelos
bancos. Tais empréstimos criam um ciclo de escravidão por divida que promove
uma manutenção das arbitrariedades administrativas. Outro fator é que o governo
precisa manter a produção de dinheiro para que haja um mínimo de reservas
dentro dos cofres do banco central. Pois qualquer colapso econômico consistiria
em greves, rebeliões e deposições. A única coisa real no ciclo de empréstimos são
os bens dos devedores. Alguém só toma um empréstimo de um dinheiro que não
existe se ele tiver uma garantia real, algo que exista e garanta o pagamento ao
banco, tais como bens (casa e carro) ou um emprego estável (serviços públicos).
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