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Ebó, descarrego, benzimentos, simpatias e rezas.


No ebó devemos tentar sentir o mesmo que o consulente. Nos colocar em seu lugar. Para que ele se livre daquele sentimento... pedindo  para que agente nunca o tenha. (José Oleriano da Silva)

Benzimento, ebó, correntes de oração, defumação, passe, rezas, banho de folhas, descarregos, simpatias, energizações e muitas outras práticas de caráter espiritual são reduzidas, pelos céticos
e ateus, à simples crendices. Muitos se referem à tais coisas, muitas vezes milenares, com uma frase: eu não acredito. Antes de algum tipo de consideração explicativa é necessário esclarecer que o mundo espiritual não precisa da crença para existir. Ele simplesmente existe. Porém, para os mais curiosos, os que têm a mente aberta a compreender tais coisas, mas sendo céticos podemos pontuar de um ponto de vista racional.
Tais ações, citadas anteriormente, ocorrem dentro de uma lógica científica. A física quântica e a ciência moderna em geral, se fundamentam no princípio do velho pensador Lavoisier: na natureza nada se cria, nada se perde. Tudo se transforma. Portanto, tudo é energia. E a energia se transforma e atua em infinitas formas. Elas se transformam também pelo princípio da dialética. Ou seja, o movimento gerado pela relação direta entre os opostos. Masculino e feminino; claro e escuro; silêncio e som; positivo e negativo; prótons e elétrons. A relação harmônica entre forças opostas geram o movimento. O ciclo. A corrente. O círculo. O xirê. A gira. Em nossas emoções, na saúde, no bem estar psicológico. Em todas essas dimensões há um constante fluxo de energias, positivas e negativas, que determinam nosso bem estar. Sejam por motivos de desgastes físicos, decepções, conflitos pessoais e/ou sociais, sentimentos negativos. Somos sujeitos às influências e conseqüências dessas energias. 
Desse modo, quando estamos negativizados, seja pela tristeza, inveja, doença, brigas, decepções e outras coisas, tais ações (benzimento, ebó, rezas...) vem cumprir um papel de troca de energia. O benzedor, o padre, o babalorixá ou yalorixá, o terapeuta, seja quem for, realiza uma troca de energia com a pessoa negativizada. Estabelece-se uma corrente. Uma troca de energias. E é por isso que há a necessidade da vocação e da disciplina espiritual para exercer tais práticas. Desde terapeutas e massagistas até rezadeiras e benzedores, dos babalorixás e yalorixás até as próprias entidades incorporadas, carregam em si um dom. Uma vocação real, uma habilidade e força em lidar com energias, em oferecer positividade a outras pessoas, e mais, em suportar a negatividade que recebem de outros. Desse modo, quanto maior o dom e a vocação de oferece os esforço espiritual melhor e mais duradouro são os resultados para quem recebe a ajuda.
O dom e a vocação citados não são apenas natos. Eles podem ser desenvolvidos e potencializados pela dedicação, pela autodoutrinação, bom senso, bondade, humildade. O cultivo das virtudes humanas em si mesmo é um dos pontos essenciais para o desenvolvido de uma potencialidade espiritual que lhe dá condições para ajudar outras pessoas.
Aqueles que anseiam ser líderes espirituais, ou mesmo pessoas que prestam consultas e orientações a outros devem ter claro em suas concepções o fator racional que envolve tal questão. Além disso, a pessoa deve estar em constante exercício espiritual e disciplinar para que possa sempre estar espiritualmente positivo e apto a suportar energias negativas. 

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