Até que
ponto podemos controlar nossos sentimentos? Bem estar, alegria, satisfação, emoção,
amor, ódio, raiva, desprezo, paixão. Paixão. Eis o mais complexo. O mais cruel.
O mais intenso.
Na paixão há
masoquismo. Paixão é quase sinônimo de sofrimento. Quase? Quase não. É o
próprio sofrimento. A paixão é o querer impossível. Impulsivo. Mas qualquer
impossibilidade torna-se alcançável quando há paixão.
Na paixão
mora a dúvida. Incompreensão. Incompreensão sobre a causa. De onde vem tal
sensação. O que explica tamanha obsessão.
Na paixão há
medo. Medo das consequências de trocar uma vida por um momento.
Há também
esperança. Esperança que tal momento se torne uma vida. E que dure toda ela. Toda
e além. Além da idade. Dos anos que corroem a convivência com ferrugem em ferro
puro.
A paixão é
ilusão. Ilusão de que aquilo que não pode ser seja. Ilusão de felicidade plena
em apenas um abraço. No cheiro do perfume doce no cabelo e no hálito. Felicidade
eterna em gesto passageiro.
Não só de
pão vive o homem. Mas de muita paixão. Mesmo que ela seja sua decadência, sua
perdição.
A sofrimento
da paixão vale cada segundo de sua contemplação. De seu sofrimento, angústia e
solidão.
Na paixão há
metafísica. Nela cada cor, som, odor, movimento, gesto ganha significado. A brisa
só sopra aquele perfume. Cada batida que toca, toca no coração a mesma
sensação.
Os pombos na
areia à minha frente me causam inveja. Aquele macho vigoroso cortejando a
fêmea, branca de olhos escuros e bico rosado. Mas parecem gozar um paraíso onde
só há paixão. Mútua sobre a areia branca, quente, iluminada pelo sol.
O casal ao
meu lado, desgastados pelo tempo em aparência, trazem em si uma sensação de paciência,
de compreensão e convivência. A sensação que tenho eu, ao observar tal
experiência, seja uma ligeira inveja em meu instável ser. Vejo-me pensando,
será talvez, que nessa antiga relação, já houve um dia, o tal fogo da paixão? Ou
há apenas tolerância nas enrugadas faces?
Será que
minha tão platônica contemplação, se concretizada um dia, persistirá acesa em
brasa e fogo quase eterno como o sol enquanto dura? Ou se converterá em cinzas
frias de uma moralizada obrigação? São perguntas de paixão.
A paixão é a
tinta de minha caneta. Sem ela simplesmente calaria minhas letras.
A paixão é a
brisa que move as ondas de meu oceano. Dentro de mim há um oceano. Oceano de
sentimentos a banhar continentes por inteiro. Continentes vastos a abrigar
apenas um ser vivente. Habitante cósmico. Encantamento que alimenta meu ser.
Não sei como. Por que. Até quando. Apenas sei
que assim é. Assim está. Assim estou. Carregado de paixão.
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