Escalava uma parede. Fria, suja. No
meio da escuridão. Percebia uma luz. Quente. Estranha. Cheia de afeto. Acordei.
Percebi então aquele ser. Uma pessoa. De lá vinha o calor. O afeto. A luz. Emanava
dela algo invisível. Uma luz que orienta. Guia. Ensina. Esquenta. Esquenta meu
coração. Aquece meu ser. Meu dia começava. Apenas acordei. Apenas abri os
olhos. Olhei-me no espelho e senti certa juventude. Emocional. Espiritual. Na rua
me deparei com uma brisa. Fresca. Quase fria. Agradável. Continuei minha
caminhada, entre carros e pessoas. Entre a brisa fresca. Quase fria. Encontrei-me
então com sorrisos. Banhei-me de sorrisos. Sorrisos jovens. Tão jovens que, às
vezes, perdidos. Perdidos sem saber que estão. Jovens que vivem por viver. E isso
sim... Mal sabem eles. Isso sim é viver. Mesmo que dure pouco, bom mesmo é
viver por viver. E entre tantos sorrisos, sinceros ou não. Com afeto ou não. Percebi
que aquilo era como uma fonte de juventude. Como remédio pra doença do tédio. Um
banho de água sagrada. Que lava minha alma. Conforta meu coração. Acalma meu
ser. Eu. Eu mesmo. Não posso viver por viver. Não mais. Mas posso sorrir por
sorrir. E sorrir pra quem vive por viver.
Hoje é o dia do registro do meu vô. Zé Nogueira. Puxador de enxada. Agricultor raiz. Aquele que planta, rega, aduba, colhe, carrega no carrinho de mão. Nunca gostou de explorar nem criação, como cavalo, mula e burro e boi. Aquele que pega, carrega e vende no carrinho de mão. Com as próprias mãos. Anos e anos batendo perna na cidade inteira, vendendo e vendendo, à vista e fiado, mas cobrando com classe e gentileza: leva esse e fica devendo 2, dona Maria. Zé Nogueira. A pouca memória que tenho como neto dos do meio, é tanta que não cabe aqui. Mas só sei que é boa. Memória boa. De um neto que herdou coisa boa. Bença vô!
Muito bom!
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