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República Velha: 4 décadas de exclusão em nome da democracia - Por Luana Santos

  



 Em 1891, com a nova constituição aos moldes daquilo que se chama de República, os brasileiros pensaram que teriam um novo país. Infelizmente não foi o que ocorreu. Podemos dizer que até hoje esperamos essa nova nação, em que todos terão realmente direitos iguais, que esse violento capitalismo seja repensado, amenizando todas as desigualdades sociais e assim, iniciando um período de paz. Doce ilusão.
  
Durante a República Velha as mudanças não foram muito significativas para a população. Teve o início do Federalismo com a autonomia dos Estados, o surgimento dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e o “Direito ao voto”, que excluía quase toda a população. Soldados, mendigos, mulheres, menores de 21 anos, analfabetos, pessoas de ordem monástica eram totalmente proibidos de votar e aqueles poucos que podiam, tinham que votar em frente ao olhar inquiridor da banca. Fora isso, ainda existia as fraudes eleitorais, também denominados “bicos-de-pena”. Mas por que tudo isso?
  
Nessa época, quem realmente mandava eram os coronéis e quase sempre eram eles que se elegiam a cargos políticos. Todo coronel tinha seu “curral eleitoral”, assim sempre se mantinham no poder. O curioso também a ser ressaltado era que os políticos vencedores sempre eram Mineiros ou Paulistas, onde localizavam-se as maiores elites agrárias do país.

  Toda essa desigualdade começou a gerar profunda insatisfação na população, que com o surgimento das indústrias agravaram-se ainda mais. A introdução da industrialização no Brasil (influenciado pela Europa) fez com que fossem necessários Europeus para a mão-de-obra, já que lá a maioria era alfabetizada e sabiam manusear corretamente as máquinas. Outro fator que contribuiu para a vinda dos imigrantes foi a constante instabilidade em razão das guerras e revoltas na Europa.
  
Em sua maioria Italiana, os imigrantes vinham com ideais revolucionários, e por consequência, começaram a surgir os sindicatos trabalhistas para exigir melhores condições de trabalho, já que essas empresas controlavam totalmente a vida dos operários. Estes viviam em vilas, ou cortiços, pequenos espaços com péssima estrutura para viverem. Estes cortiços eram construídos pelos donos das Indústrias, para que assim pudessem ter um controle dos seus operários até quando não estivessem trabalhando.
   Esse mesmo grupo de operários fundou o PCB em busca de assim, conseguir colocar em práticas suas ideologias comunistas, além de organizações de caráter anarco-sindicalista. Em 1917 é realizada uma greve de grandes proporções para reivindicar melhores jornadas de trabalho e 2 dias de folga por semana.

  No Nordeste as condições não eram melhores e uma das formas de fugir um pouco dessa dura realidade era consolar-se na religião. A crença no Messianismo, a insatisfação crescente com o governo culminaram várias guerras e revoltas no país. Uma que podemos destacar é a Guerra de Canudos, uma cidade que surgiu a partir dos ideais comunistas e absolutistas de Antonio Conselheiro, que liderou mais de 25.000 pessoas para esse “Estado Novo”. Canudos acabou tornando-se uma ameaça para o capitalismo e foi combatido até ser totalmente dizimado.
  
Podemos também citar algumas revoltas, como a da Chibata e a da Vacina, que também foram fortemente 
reprimidas e assim se resume a República Velha. Insatisfação, desigualdades, revoltas, corrupção, fraudes e exclusão.
  
O Brasil, um país novo, teve muita influência, e até hoje tem, da Europa. Do nada surgiram vários movimentos no Brasil? Não. Todos estavam percebendo que os outros países estavam “evoluindo”, graças as suas revoluções. A Revolução francesa por exemplo, influenciou drasticamente o Brasil com o surgimento do Modelo de Estado Burguês, a ascensão da burguesia e do capitalismo. Como esta revolução não trouxe mudanças relevantes para os Europeus com menor poder aquisitivo, aconteceram as Revoluções de 1848, em que a população novamente ia às ruas em busca dos seus direitos.
   
O contexto social da Europa, na época, causou muitas mudanças no Brasil. Boas e ruins. Mais tarde (1914), com o início da 1° Guerra Mundial o fluxo de imigrantes que chegaram aqui foi muito grande que ganhou maiores proporções com a Unificação dos reinos Germânicos. Foi um “efeito dominó”.

  
O que podemos concluir de tudo isso? Provavelmente não viveríamos esse capitalismo altamente abusivo se não fosse a Europa. O século XIX foi um período de grandes transformações que geraram consequências que permanecem até hoje. Creio que precisamos dar um salto e pararmos de sermos “capachos da Europa e dos EUA”, literalmente “Maria vai com as outras”. Não precisamos disso, o Brasil tem condições de criar políticas públicas mais justas e dar atenção aos apelos do povo, pois o governo é nosso. Um exemplo disso foram as manifestações contra o aumento da tarifa dos transportes públicos que causou impactos ainda em andamento. O povo é a voz da nação.

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