Por Alan Geraldo Myleo
Os Orixás existem para serem louvados e não
vendidos. O culto aos orixás, independente de sua forma vive um grave problema.
A comercialização de sua fé. Quando se fala em “terreiro de macumba’”, em pai
ou mãe de santo, às pessoas que não são adeptas imaginam um feitiço, uma
mironga, uma mandinga para trazer o amor, arrumar um emprego ou prejudicar um
inimigo. Mulheres e homens traídos e vendedores que não conseguem vender são os
que mais procuram. O jogo de Búzios é um instrumento de adivinhação nesse
comércio. O ebó é algo que tem como objetivo resolver os problemas das pessoas.
A iniciação é algo que trará o melhor emprego, o melhor companheiro, ou
companheira, e todos os problemas das pessoas são resolvidos depois de
iniciados. Estabelece-se uma relação exclusiva de troca entre o Orixá e aquele
que cultua. Existem pessoas que colocam o Orixá de castigo. Fazem ameaças do tipo:
“se você não me trazer tal coisa não lhe darei de comer”. Dentro de um terreiro
se louva a roupa mais bonita e mais cara. O pé de dança de quem está
incorporado. A comida e a bebida que serão servidas após o culto. A relação
entre fé e dinheiro no culto aos Orixás é muito presente e negativa.
Os motivos que levam a tal questão são muitos.
Fazendo comparações podemos afirmar que em outras religiões também há tal
relação. Porém elas são institucionalizadas. O adepto tem consciência que sua
contribuição tem um fim, seja ele justo ou não. Toda religião precisa de
templo. Nesse templo se gasta com água, energia elétrica, manutenção do espaço.
Na maioria deles servem-se comidas e bebidas de graça. Os sacerdotes e sacerdotisas
precisam de moradia, tem gastos, comem, bebem, pagam contas. É claro que há
abusos e enriquecimentos incoerentes, mas é fato que é necessário estabelecer
um sistema econômico para manter um centro religioso. No culto aos Orixás não
há uma instituição central. Cada casa é uma instituição presidida pelo
Babalorixá ou Yalorixá. Assim sendo, para que se estabeleça uma organização
econômica adequada os adeptos devem colaborar com tal instituição, na casa ou
centro de culto aos orixás. O problema é que muitas pessoas, que ingressam no
mundo do culto aos orixás, procuram soluções para problemas de dinheiro e/ou
amor, na maioria das vezes. Assim sendo, essas pessoas não estão dispostas a
realmente fazerem parte de uma instituição religiosa organizada. São pessoas
que não mantém um compromisso com mensalidade, com freqüência e contribuição
para a manutenção da casa a que faz parte. Nesse caso, o Babalorixá ou Yalorixá
tem trabalhar em outros tipos de emprego para sustentar sua própria casa ou
recorrer ao comércio do jogo de búzios, dos ebós, dos feitiços para amor e
dinheiro e até àqueles para prejudicar inimigos.
Filhos de santo não sustentam seu templo. Não o
valorizam como tal. Salvo as exceções. Assim, no fim das contas, são os
clientes, os que menos se beneficiam com a força do Orixá que acabam
sustentando a existência do Axé e dos sacerdotes e sacerdotizas.
Nessa realidade muitas pessoas se tornaram
sacerdotes espirituais sob duas condições. Ou compartilhando dessa prática
deturpada ou lutando contra ela. E a fonte do problema é mais sutil do que
parece. A falta de entendimento sobre a própria religião. A falta de
consciência de que o culto aos orixás é uma religião que tem fundamentos muitos
sérios. Existe ética e moral em toda sua existência e nas regras que a regem.
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