No marasmo da inutilidade de mim mesmo
Penso talvez que pudesse por vez
Inventar, produzir, fazer e refazer
Algo que fosse, assim de minha posse
Que pudesse, quem sabe, servisse
Para algo, tão simples que fosse.
Tipo o talco pra frieira
Um terço pra uma freira
Ou barraca numa feira.
Mas logo, muito em breve, bem sutil como neve,
Uma preguiça me consome, uma moleza de moléstia
Me abate como um touro no corredor do matadouro.
Mas de repente, não mais que num repente
Me volto pra mim mesmo, em um surto de momento
Banhado em arrependimento, me açoito, me condeno
Vagabundo, imprestável, cão sarnento.
Penso, repenso, dispenso, compenso
Do tempo perdido na preguiça
Feito inseto, parasita, carrapicho
Urubu sedento na carniça.
Então me faço forte como poste em rua escura
Penso que em mim mesmo erguerei uma estrutura
De muita honra, altivez e bravura.
Trabalhar, conquistar uma postura
De gente decente com altura
De chegar, poder falar com formosura
Mostrar o meu dinheiro e estatura
Meu cabelo, meu carrão, minha cultura.
Mas tudo isso dá um trabalho por demais
Acho que agora, pensando bem, não quero mais.
Só de pensar em tal canseira dói o osso
E tanto faz, pois tudo acaba em desgosto
Esse negócio de ser bom só pra mostrar
Pra todo mundo todo tudo que se tem e se quer ter
Esse negócio de viver pro outros ver
Não está com nada, deixa quieto, pode crer.
Pra viver bem agente tem que entender
Que a vida feita para ser como se quer
Fazer da mente uma fábrica de poder
Isso sim, eu te garanto é bom negócio
E mente boa, pra fazer esclarecer,
Precisa mesmo, quando em vez, é de um bom ócio.
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