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A ÉTICA CRISTÃ E A MANUTENÇÃO DA DESIGUALDADE


Dentro das estruturas básicas que compõem as sociedades existem aquelas que são mais determinantes. São essas estruturas: economia – política – cultura – religião. Em uma definição simplificada, a economia determina todas as condições de sobrevivência material de um grupo. A política organiza tal grupo em suas relações e administração. A cultura determina os hábitos e a maneira de enxergar o mundo. A religião estabelece os dogmas, a ética e a moral que servirão como base para a sustentação das relações sociais estabelecidas.
Na idade média, marcada pela expansão e fortalecimento da Igreja Católica Apostólica Romana, estabeleceram-se determinadas verdades e dogmas, assim como padrões de ética e moral. Inspirados no discurso cristão em que bens materiais e riquezas não levam a salvação nem ao paraíso, a igreja conduziu seus ensinamentos para fazer com que o povo se conformasse com sua condição de pobreza. Instituiu o trabalho como castigo aos pecadores, segundo a tradição hebraica, e também o lucro como pecado. Ao mesmo tempo estabeleceu a função da “Santa Igreja” como a representação do governo de Deus na terra, sendo o Papa a autoridade máxima de poder divino. Sendo a Igreja então a instituição que representa o governo de Deus, tal poder deve ser absoluto e grandioso. Uma das missões sagradas deixadas aos seguidores de Jesus é a divulgação da "verdade" para salvar a alma de todos os pecadores, portanto toda a humanidade uma vez que todos são descendentes dos hebreus Adão e Eva. Para executar tal projeto a Igreja necessitou então de arrecadação. Para isso estabeleceu que toda riqueza produzida para além das necessidades deve ser doada a obra de deus. Todos devem contribuir com parte daquilo que produz. E quanto mais doações para obra de Deus mais seu pecados serão perdoados, mas chances se tem de herdar o reino dos céus.
Desde o princípio da fundação da Igreja Católica, uma das estratégias dos romanos, foi tentar garantir uma estabilidade política através de alianças entre os poderes locais (nobreza medieval) com o poder religioso (igreja). Desse modo qualquer rebelião, contestação ou oposição à tal lógica de pensamento ou verdades religiosas eram facilmente reprimidas. Tanto que o Tribunal da Santa Inquisição nada mais era do que um mecanismo de total repressão à qualquer tipo de oposição ou ameaça ao poder local. Seja político ou religioso.
A doutrina cristã do voto de pobreza e do não apego aos bens materiais cria uma forte base moral de sustentação do feudalismo, que 1.000 anos depois se transformou em capitalismo. Na transição de estrutura econômica de feudalismo para capitalismo, o cristianismo também foi adaptado enquanto doutrina sustentadora da desigualdade. Tal doutrina foi reformada e adaptada pelo movimento protestante, principalmente reformulando a ideia de lucro e trabalho como coisas negativas. O lucro e o sucesso na acumulação de riquezas passaram a ser vistos como uma predestinação de Deus e o trabalho como um ato sagrado. Em outras palavras, a doutrina cristã cria um certo conformismo em relação a desigualdade. Tanto o catolicismo quanto o protestantismo são importantíssimos fortalecedores sociais de sustentação do capitalismo. São doutrinas que se limitam a consolar a pobreza. Fazer dela algo inevitável, como uma condição estabelecida por Deus. Como uma forma de pagar os pecados. Um pensamento mantenedor da submissão. E tal submissão como uma garantia de ingresso no reino dos céus, no paraíso, à direita de “Deus Pai Todo Poderoso”. Além disso torna conquistas materiais básicas, como aquisição de um carro ou uma casa própria, como milagres, como verdadeiras obras de Deus e Jesus na vida do fiel. Tira de si mesmo o mérito do trabalho e da conquista. 



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