Salvador Dali
Oh que saudades
tenho, daquilo que sentia tão intensamente sem saber mesmo que tudo aquilo não
passava de ilusão. Mas oh doce ilusão. Que saudades tenho de ti. Ilusão de ser
verdadeiramente amado por aquela que nem mesmo sabia o que era o amor.
Saudades tenho de
minhas dúvidas sobre Deus. Se ele existia ou não. Se minhas orações em momentos
de profunda angústia, por não ter o rosto de uma paixão nas palmas de minhas
mãos, eram realmente ouvidas por algo ou alguém. Como me sentia abandonado por
Deus, pelos anjos, pelo espírito, santo ou não.
Quanta ilusão
assombrava meus sonhos. Disso não tenho saudades. Sonhar em ser notado,
admirado por pessoas que nem mesmo conheço. Enquanto isso, aqueles que me
percebiam eu não os percebia. Aqueles que me amavam eu não percebia. Aqueles
que me admiravam eu não compreendia. Que sonho ruim, quase pesadelo, sonhar em
ser quem não se pode ser. Querer ser como quem não é nada daquilo que merece, que
parece que carece ser.
Somos atordoados por um mar de ilusões. Um mar
poluído, contaminado, cheio de angústias, inveja, soberba, arrogância que mata
a alma e envenena. Envenena as outras almas que nos cercam. Almas que se espelham
em mim. Que sofrem por mim. Que sofrem por conseqüência de mim. Por aquilo que
fiz, ou que não fiz. Pelo sorriso que não dei. Pelo desprezo, pela ofensa e
desfeita que causei. Mesmo que sem perceber, cego em meu ego. Doente em meu
ser.
Oh que pesar eu
tenho. De não conseguir me fazer entender. De não ser compreendido por quem só
vê em mim aquilo que não sou. Que triste me sinto quando minha felicidade, por
mais simples ou diferente que seja, se torna motivo da infelicidade de outros. Mas
não há felicidade em orgulhos e preconceitos. Só há falsidade. Só há equívocos
e aparências.
Oh que gratidão. Gratidão
pelo que me tornei. Pelos livros que li. Pelas pessoas sábias que encontrei.
Gratidão pelo que sou. Por onde estou. Gratidão por existir, resistir e
persistir. Gratidão por ter aprendido a superar meus problemas, vencer
obstáculos. Gratidão por reconhecer minha própria ignorância e insignificância perante
o universo, perante Deus, perante os outros. Perante tudo.
Minha condição é
como a natureza. Em constante transformação. Constante mutação e adaptação. Nunca
sou o mesmo a cada palavra sábia que ouço, a cada frase que leio. Nunca me
sinto tão bem quanto ver, pra mim, o sorriso em outros e outras representando,
em cada um de si, o estar tão bem.
Às vezes penso na importância do que tenho. Tenho meus olhos para ver a luz, as letras e os sorrisos. Tenho ouvidos para ouvir os pássaros, os carros, os “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Para ouvir eu te amo. Tenho minha boca para dizer: eu também te amo. Para dizer coisas que aprendo. Que me fazem bem. Para dizer gentilezas e fazer alguém sentir-se bem. Tenho meu tato para sentir a brisa, o abraço, a carícia. Tenho minha vida para viver. Tenho minha vida para viver junto com outras vidas. Seja por momentos curtos ou longos. Mas momentos verdadeiros. De sinceridade, bem querer, amor, compaixão, afetividade. Tenho tudo que preciso para viver. Tenho minha vida.
Este texto é maravilhoso Professor ! Daqui alguns anos espero ter esta mesma reflexão da minha vida...
ResponderExcluirEste trecho é o melhor :
"Às vezes penso na importância do que tenho. Tenho meus olhos para ver a luz, as letras e os sorrisos. Tenho ouvidos para ouvir os pássaros, os carros, os “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Para ouvir eu te amo. Tenho minha boca para dizer: eu também te amo. Para dizer coisas que aprendo. Que me fazem bem. Para dizer gentilezas e fazer alguém sentir-se bem. Tenho meu tato para sentir a brisa, o abraço, a carícia. Tenho minha vida para viver. Tenho minha vida para viver junto com outras vidas. Seja por momentos curtos ou longos. Mas momentos verdadeiros. De sinceridade, bem querer, amor, compaixão, afetividade. Tenho tudo que preciso para viver. Tenho minha vida. "
Tenho tudo isso , e muitas vezes reclamo de "barriga cheia" da minha vida...