Por Alan Geraldo Myleo
Natural do Rio de Janeiro, mais especificamente
Bento Ribeiro, cresceu em uma família de católicos (brancos) na década de 1920.
Logo na infância sua espiritualidade começou a
se manifestar intensamente com crises que ninguém compreendia. A família
católica, sem saber mais o que fazer depois de levar a padres, procurou um
terreiro. Lá ela conheceu uma das pessoas mais importantes da vida de nome Dinorá.
Foi com Dinorá, que era alguns anos mais velha, que Maria iniciou sua vida no
culto aos Orixás. Foi feita de Xangô com Yansã dentro da tradição de Amolokô,
muito comum no Rio de Janeiro.
Logo na adolescência saiu da casa em que morava
e foi viver com Dynorá. A partir de então passou a viver exclusivamente para o
culto aos orixás.
Em torno de seus 20 anos de idade conheceu um
paulistano, por quem se interessou. Ele a convidou para se mudar para São Paulo
para viverem juntos. E ela aceitou. Veio, com os orixás, seus guias e suas
bolsas e se instalou em São Miguel Paulista junto com Antenor, o paulistano que
a “seduziu” e com ela viveu até sua morte.
Nessa época São Miguel Paulista era quase uma zona
rural. Com poucas casas entre sítios e fazendas. A avenida principal, Pires do
Rio era de terra, e a única via de acesso ao centro da cidade. Havia também a
Capela de São Miguel Arcanjo, que hoje é um museu histórico. Foi nesse lugar
que ela fundou seu primeiro centro espiritual. Haviam na região da zona leste
de São Paulo, alguns terreiros de Umbanda, e em poucos lugares, de Candomblé.
Porém não existia Amolokô. E quando Maria começou seus trabalhos muitos acharam
estranho aquela forma de culto, que parecia uma mistura de Angola com Umbanda.
Mas ela, com sua forte personalidade não se incomodava com boatos, e manteve
seus trabalhos por toda sua vida.
Ela teve várias filhas. Entre legitimas e
adotadas, as que permaneceram ao seu lado até sua morte foram Nilvaci e Dirceni.
Dirceni era ekdji de Yemanjá e ajudava sempre em todos os trabalhos. Nilvaci
era curimbeira. Uma das mais famosas puxadoras de pontos da zona leste. Apesar
de não ter muito gosto e afinidade com seu cargo espiritual, Maria não abria
mão de sua presença.
Nilvaci teve quatro filhos. Dos quatro, dois
seguiram os caminhos de Maria no culto aos orixás. Marcelo Fabiano Garcia, de
Xangô, e Márcio Adriano Garcia de Ogum. Ambos são, atualmente, Babalorixás de
Nação Ketu. Porém as raízes de seus ensinamentos estão naquilo que aprenderam
com Maria.
Após alguns anos em São Paulo, Maria ficou
muito conhecida em toda a zona leste. Sua fama corria, principalmente por sua
forte personalidade e bondade. Sua disposição em sempre ajudar as pessoas era
admirável. Muitos sempre relatam e relembram seus feitos, como abrigar pessoas
em seu centro. Seus benzimentos eram os mais procurados da região. Hábil
benzedeira, milhares de crianças tiveram suas palavras e rezas como fonte de
força abençoada. Conseguiu deixar patrimônio, conquistado junto e pelos orixás,
que serve ainda a seus bisnetos que não a conheceram em presença, mas a
conhecem bem pelas histórias e “causos” tão contados e recontados por Marcelo e
Márcio.
A Casa de Santo Axé de Ogum, da qual sou Babakekerê,
e que seu neto Márcio de Ogum é Babalorixá, tem como bases morais e éticas,
atos, rezas, fundamentos e práticas que pertenciam a Maria. Maria é o principal
pilar de nossa casa, apesar de, em vida, seguir a tradição de Amolokô, e se
auto intitulava de Umbanda. Mas isso não importa no momento, já que tudo é
culto aos Orixás.
Após quase 20 anos de sua morte, suas frases,
palavras, personalidade, caráter servem de inspiração aos mais novos, que nem
mesmo a conheceram. Sua própria linhagem espiritual continua na quarta geração,
com Jonatham Eduardo, que é suspenso Ogan de Odé.
Maria
Moreira Maia é um dos grandes exemplos de uma mulher de força, garra, fé,
bondade, perseverança e caráter entre as mulheres que contribuíram para
perpetuar o culto aos Orixás. Tenho certeza que seu nome e seus ensinamentos
serão lembrados todos os dias por muitos e muitos anos.
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