As esferas se confundem em uma complicada rede de conflitos entre os direitos e os deveres. As ações individuais que geram consequências individuais devem ser proibidas pelo Estado? O Estado tem o direito de regular e se faz na esfera privada? São esses questionamentos que permeiam tais relações entre as ações individuais nas esferas públicas assim as ações do Estado nas esferas privadas. A Revolução Francesa é o marco do mundo moderno, não só por estruturar um Estado Burguês. Mas pelo fato de, através desse novo modelo de Estado, ter-se alterado todas as esferas das instituições privadas. Como disse Michelle Perrot “A vida pública postula a transparência; ela pretende transformar os ânimos e os costumes, criar um homem novo em sua aparência, linguagem e sentimentos, dentro de um tempo e de um espaço remodelados, através de uma pedagogia do signo e do gesto que procede do exterior para o interior.” Além disso “(...) ela proclama os direitos do indivíduo (...)”. Essa concepção permeia a ideia que o Estado representa o povo, o coletivo. Tem a função de organizar e garantir o bem estar desse coletivo. E indivíduos formam o coletivo, portanto, o que não é bom para o indivíduo não é bom para o coletivo. E é isso que Lynn Hunt quer dizer quando afirma que o “desenvolvimento do espaço público e a politização da vida cotidiana foram definitivamente responsáveis pela redefinição mais clara do espaço privado no início do século XIX.”
Contudo, quando a lei quer e tente regular o quanto se ingere álcool, como se dirige e o que fazer com as consequências disso, o Estado tenta regular o bem estar coletivo restringindo ações individuais. O uso do cinto de segurança por exemplo, que há 10 ou 15 anos atrás não era obrigatório. Quando foi imposta a lei da obrigatoriedade houve grande resistência. Hoje se criou o hábito. Todos usam sem necessidade de repressão. O alcoolismo pode ter um caminho semelhante.
Mas, o que ocorre também, é a falta de compreensão da própria relação entre poder público e esfera privada. Indivíduos comuns tem resistência e dificuldade em se adequarem à normas e leis por motivos diversos. Falta de conhecimento e noção de coletividade; ignorância política; individualismo; ausência de pensamento e comportamento ético; falta de noção de direitos e deveres na vida em sociedade; entre outros. Mas, esses mesmos indivíduos, de senso comum, ou seja, a massa populacional tem a característica de serem passivos ao condicionamento. Assim como foram condicionados à usarem o cinto, espera-se que sejam condicionados a não dirigirem alcoolizados.
O Texto está bom, mas não gostei do termo indivíduo comum.
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