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Caso USP - A vergonha nacional do ano

Existe uma classe pensante em nosso país? São os professores e estudantes dos cursos ligados à educação? Bom, pelo menos deveriam ser.

Lembro-me que, há pouco tempo, escrevi um artigo criticando o povo brasileiro pelas mazelas de nosso “jeitinho” (corrupção, desonestidade, alienação, conservadorismo). Agora o Brasil ilustra esse conceito com mais um cenário vergonhoso em que 2000 futuros professores estão manifestando o direito de fumar maconha livremente pelo campus da “melhor” universidade do Brasil.

Manifestar e mobilizar grupos em prol de direitos civis e políticos é maravilhoso. Os movimentos pela legalização da maconha, por exemplo, são compreensíveis. Mas por que esses dois mil estudantes nunca fizeram greves e manifestações pelo fim da corrupção, por uma reforma no sistema educacional no Brasil, por melhor distribuição de renda, pela nacionalização total do pré-sal, pelo aumento do salário mínimo, pelo aumento do salário dos funcionários públicos, e muitos outros pontos negativos que atrasam o desenvolvimento de nosso povo.

Mas agora, quando a tranqüilidade de fumar maconha livremente pelo campus ficou limitada pela presença da PM-SP, mais de 2000 estudantes, futuros professores, representantes da classe pensante e politizada do país pararam em greve, invadiram o centro administrativo da USP.

2000 estudantes de classe média, média-alta e alta, que dedicam seu tempo às leituras filosóficas, políticas, econômicas e educacionais... E... Também... Fumar maconha, tocar violão, recitar poesias (como eu mesmo já fiz quando era “filho de papai” e não tinha nenhuma outra preocupação a não ser essas citadas anteriormente), estão mobilizados para impedir que a PM-SP (órgão de segurança publica) atue dentro da USP (instituição de ensino público).  

Independente do fato de que a livre comercialização de maconha tem suas inúmeras defesas, ainda é ilegal. Exceto dentro dos muitos campus universitários, onde as autoridades fazem vista grossa para não comprometer a imagem das universidades. E assim, o destino da droga (que alimenta o crime organizado no país, que tira muitos  adolescentes das escolas, que alimenta uma extensa rede de corrupção em vários níveis de poder) são os campus universitários. Lugar onde, tal droga, é comercializada e consumida livremente longe da jurisdição da PM.

Assisti a um dos manifestantes dizendo que umas das causas das manifestações era a opressão da PM sobre a população pobre nas periferias. Ora, desde que o Brasil é Brasil essa população é reprimida e perseguida. Então, por que nunca fizeram esse movimento antes?

      Será que, se 50% das vagas da USP fossem reservadas à alunos de escolas públicas e pessoas de baixa renda estaríamos assistindo esse episódio. Aliás, será que esses manifestantes já pensaram em exigir da USP que reservasse 50% das vagas para estudantes de baixa renda? Creio que não, pois eles teriam seus lugares ocupados, pois a maioria dos manifestantes não são de baixa renda. Além disso, pessoas de baixa renda precisam estudar e trabalhar, assim não sobra tempo para manifestar por coisas como fumar maconha livremente  no campus da universidade.  

     A classe pensante\fumante deveria ter mais consciência sobre seus atos. Mais coerências com seus discursos, quem sabe assim sua voz teria mais crédito.

     O  que concluir desse episódio?

    Isso é apenas mais um retrato, um exemplo de nossa diversidade cultural, de nosso povo multicultural, multiétnico, multi... multivazio, multialienado, multignorante, multindividualista, multiconsumista.... multivergonhoso.


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