Pular para o conteúdo principal

É possível uma revolução socialista no mundo atual?


OBS: Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.

A humanidade vive uma crise em suas relações. Ao compararmos a essência das relações sociais das antigas sociedades coletivistas (que sobrevive em alguns pontos do planeta na forma de comunidades tribais e rurais de subsistência) percebemos o quanto nossas relações se distorceram da origem.

Ao longo do tempo nossas relações sócio-culturais em todas as suas amplitudes estão se tornando complexas à mesma medida em que multiplicam-se os habitantes em nosso planeta. Uma das dimensões de maior relevância no processo de “evolução” da humanidade, foi o surgimento dos sistemas econômicos complexos, que por sua vez definiu o caráter das estruturas sociais, culturais e políticas. O sistema econômico e suas estruturas não se limitam à padrões administrativos, comerciais e legislativos. Ele define também a essência, o ethos  dos grupos humanos.

O polêmico sistema capitalista criou seu padrão moral e ético que tem como bases o individualismo, a liberdade de consumo e a acumulação de bens como estado de felicidade. Porém nem todos aceitam pacificamente tal condição, e se inspiram nas ideologias de esquerda para se manifestarem contra o sistema capitalista.
Essa constante, comum e necessária insatisfação em relação ao capitalismo, que se baseia no discurso socialista, e que defende a necessidade de uma revolução social, quase sempre se perde e se esvazia quando se remete ao fracasso dos governos socialistas já implantados assim como à questão das liberdades individuais tão “importantes” na sociedade globalizada hipermoderna que foram suplantadas pelos ditadores socialistas. Temos que concordar que o  socialismo pela ditadura foi um fracasso.

Isso significa que o socialismo, ou mesmo um modelo de governo que promova o nivelamento social , é impensável nos dias de hoje? Para responder essa questão é preciso estabelecer concepções sobre o que é socialismo e o que é comunismo.
O comunismo é a relação social mais antiga. Dos tempos das comunidades tribais da pré-história. E que, como já disse, ainda persiste nos confins do planeta. Em um comunismo tribal todos compartilham dos mesmos bens materiais, dos mesmos locais de convivências e tem os mesmos direitos e deveres. O que organiza e diferencia é a hierarquia. O chefe, o filho do chefe e qualquer outro membro da comunidade dispõem  dos mesmos recursos materiais. Todo bem é coletivo. Desde a caça do melhor caçador até a terra em que se planta. Isso é comunismo. A organização hierárquica tribal se sustenta pela ancestralidade, pela religião e pela comunhão. Por um consenso entre os habitantes mais experientes.

Atualmente assistimos às conseqüências mais graves do capitalismo “profetizadas” por Marx e marxistas, como as desigualdades sociais extremas e os impactos ambientais catastróficos. Porém os debates, movimentos e organizações de esquerda continuam lutando contra o sistema.

Já foi provado que a justiça social pela ditadura não funciona. Mas então o que funciona? Assim como o sistema criou um ethos próprio, é necessário construir um ethos que vá contra o ethos vigente. O socialismo fracassou. O comunismo tribal foi enterrado no passado. Cabe a humanidade repensar sobre si. Se transformar. Criar um novo ethos. Mais humano. O próprio capitalismo precisa incentivar um novo ethos. O sistema está cavando seu próprio buraco. As estruturas criadas anularam uma possibilidade de revolução. Não existe mobilização. A maioria dos socialistas por ideologia não abrem mão de seu conforto em carrões, mansões, tecnologia e geladeira abarrotadas de fast foods.

 




No verdadeiro comunismo, antigo, raríssimo entre as populações humanas atuais, exige um ethos próprio. Um ethos coletivista. Um ethos em que o grupo, o coletivo é sempre mais importante do que o “eu”. Isso é quase impensável, pelo menos entre a civilização ocidental.

O socialismo é possível no Ocidente? Não.

Mas a transformação da essência do ser precisa acontecer. Não é uma questão de opção. O mundo pede socorro. A humanidade desfavorecida morre de sede, de fome, de doenças. São as primeiras a sofrer as conseqüências dos desastres ambientais. E essas conseqüências estão subindo os degraus.

Comentários

  1. Existem alguns pensadores que colocam a questão: Socialismo ou barbárie? Não sei se chegaremos a esta situação... assim como não sei se o socialismo é possivel e se for, qual socialismo?
    O que podemos afirmar é que o capitalismo não é um sistema que existiu desde sempre, mas sim, fruto de relações históricas que proprocionaram sua formação e consolidação, e que por hora parece capaz de se transformar e remodelar de acordo com suas crises estruturais e conjunturais, anulando, reprimindo e desmobilizando e desarticulando quaisquer movimentos que visem sua superação. O que não significa por outro lado, que não hajam possibilidades de transformações sociais que visam minimizar as diferenças sociais ocasionadas pelo capitalismo, mediante as vias institucionais e atraves de reformas reclamadas pelas classes populares e os excluídos.

    ResponderExcluir
  2. O socialismo real fracassou redondamente em sua dupla profecia do progresso e da revolução. Tem um livro excepcional do Antonio Negri chamado "Adeus Socialismo".

    Gostei do blogue e te sigo, parabéns.

    ResponderExcluir
  3. Não concordo em muitos pontos do texto,mais de qualquer forma é um texto bem elaborado e pertinente. Uma outra coisa que sentir falta foi da citação do ANARQUISMO ( ou Socialismo-libertário)como uma das correntes de negação do sistema capitalista e sua oposição teórica e pratica ao socialismo como correntes de esquerda.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Tem agente que não é gente.

O conceito de agente público, servidor público, é um dos alicerces fundamentais do processo civilizatório que o Brasil quase não tem. Um agente público serve o público, defende o público, o interesse, os direitos, a segurança, os corpos e os lares do público. Público é o conjunto de cidadãos que pagam os impostos, que por sua vez pagam os salários, aposentadorias e todos os recursos para que existam as instituições públicas. Só que o agente precisa ter esse conceito e essa "crença" no papel social do SERVIÇO público. Antes de reparar no pior, vamos reparar no melhor. Se existe escola, hospital, coleta de lixo e outros serviços públicos que funcionam, bem ou mal, é graças aos bons servidores públicos. Se ainda há crianças aprendendo a ler e escrever, hospitais atendendo pessoas é graças aos bons servidores públicos. E a coisa toda, da polícia ao sistema funerário, só não é melhor por causa da quantidade enorme de pessoas despreparadas moralmente, psicologicamente e intelectua...

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil – Por Alan Geraldo Myleo As informações que seguem foram retiradas do livro de Pierre Verger – Orixás – Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. A construção dessa linhagem que segue gera, até hoje, muitas divergências pois, além se serem baseadas em versões orais, envolvem uma certa vaidade devido a importância histórica, social, cultural e religiosa que envolvem tais versões. 1º Terreiro de Candomblé Kêto (oficialmente reconhecido) (Primeira metade do séc. XIX) Ilê Axé Iyá Nassô Oká Barroquinha, Salvador – BA 1ª Yalorixá - Iyá Nassô 2ª Yalorixá – Marcelina Obatossí 3ª Yalodê ou Erelun(como era conhecida na sociedade Geledé) Nome de batismo: Maria Júlia Figueiredo Obs: essa é considerada a primeira linhagem da Nação Kêto fundada com o auxílio do Babalawô Bangboxê Obiticô. Segundo algumas versões orais, YáNassô era uma das três princesas vindas do Império de Oyó( junto com Yá Acalá e Yá Adetá) que foram alforriadas por...

A Classe Média e a Manutenção da Desigualdade

A classe média brasileira é, atualmente, a mais numerosa entre as classes sociais existentes hoje. Nossa divisão social atualmente é representada pela seguinte tabela: Fonte: http://controle-financeiro.blogspot.com.br/2008/01/diviso-de-classes-sociais-no-brasil.html De acordo com o site R7 “Mais de 29 milhões de pessoas entraram para a classe C entre 2003 e 2009. Com isso, a chamada classe média passou a ser composta por 94,9 milhões de pessoas, representando 50,5% da população brasileira, segundo estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas)”. (fonte: http://noticias.r7.com/economia/noticias/classe-media-do-brasil-ja-representa-mais-da-metade-da-populacao-20100910.html )              Tal classe média tem importantes representações. Economicamente representa a classe mais consumidora. O principal público do consumismo de massa. É a mola propulsora do capitalismo industrial, dos meios de comunicação em massa e de entretenime...