Dar o peixe ou ensinar a pescar?
Seria muito bom se tal questão fosse tão simples assim.
O assistencialismo
é uma prática comum ao modelo capitalista neoliberal. A prática
assistencialista dos governos tem uma função inevitável, pelo menos até os dias
de hoje, que é a redistribuição de renda. Tal redistribuição acontece por que a
riqueza material primária (alimento e matéria-prima) gerada pelos países
capitalistas provém do suor de menos de 10% da população. Outros 10% são os
donos de toda essa riqueza. E o restante ocupa funções do 2º (indústria) e 3º setores, com predomínio no 3º, ou seja,
nos cargos públicos ou prestação de serviços em geral.
Perante
tal realidade surge o problema da redistribuição social, já que o resultado da
produção e comércio, que é o lucro, se acumula nas mãos dos 10% proprietários.
(VER CONCEITO DE MAIS-VALIA). Sobre isso Hobsbawm diz que “durante a maior parte da história, o mecanismo básico para o
crescimento econômico foi a apropriação do excedente social”, ou seja, a
apropriação da produção dos trabalhadores pelos donos dos meios de produção.
“O crescimento operava por meio da
desigualdade. Então, até agora, isso foi compensado até certo ponto pelo enorme
crescimento na riqueza total que, como mostrou Adam Smith, tornou até mesmo o
trabalhador em economias desenvolvidas materialmente melhor que o cacique
pele-vermelha, e que, em geral, tornou cada geração mais aquinhoada que suas predecessoras.”
Em outras
palavras, as desigualdades extremas passaram séculos relativamente
despercebidas pela quantidade enorme de riquezas produzidas em que um pobre e
simples trabalhador desfruta de mais bens materiais do que um chefe ou rei de
povos “primitivos”. Um pobre desse século, com certeza, possui mais bens do que
um pobre do século passado ou de gerações anteriores.
Ora, se o
resultado da produção que provém de uma minoria e que vai para as mãos de outra
minoria, o que acontece com os que não produzem diretamente? Essa população
vive da “transferência de recursos públicos,
como pensões, e outras formas de seguridade social – ou seja, por um mecanismo
político e administrativo de redistribuição social.”
O crescimento
absurdo dos setores estatais que cuidam de toda a burocracia de controle civil,
documentos, registros em gerais não existe por simples falta de organização e
logística. Tudo isso faz parte da máquina de redistribuição de renda. Ou seja,
grande parte do emprego público é também uma estratégia de distribuição de
renda. Um média de 25% à 40% da renda
doméstica, nos países capitalistas, provém de empregos públicos e seguro
social.
A parcela da população que não faz parte dessa
renda, e que também não ocupa os empregos de 1º e 2º setores deve ser atendidas
pelos programas de assistencialismo direto, pois se não, não possuíram poder de
consumo para participar da máquina capitalista de produção, consumo e
acumulação. O assistencialismo é, assim, um mecanismo de manter o poder de
consumo da população. “Nesse sentido já
começou a existir um mecanismo de redistribuição e, onde existe é seguro
afirmar que as chances de que seja desmantelado são quase nulas.”
A partir daí
temos outras problemáticas. Se a maior parte do sistema produtivo é privado, de
onde vem essa renda redistribuída pelo Estado? Das altas tributações que
assombram o setor privado, “especialmente
em crises econômicas. O sistema foi
construído para manter “um longo período de pleno emprego”, como
diz Hobsbawm, não podendo assim suportar grandes ondas de desemprego tanto
pelas consequências econômicas quanto políticas. E esse pleno emprego é mantido, em grande
parte, pela poderosa e quase indestrutível máquina burocrática. Por último, as
leis deficientes do Estado capitalista foram criadas para garantir uma renda
mínima e, se isso não acontece surge a necessidade dos programas
assistencialistas. O interessante que se mantenha a prática assistencialista.
Tanto para a máquina governamental quanto para o setor privado. Sobre toda a
riqueza distribuída através do assistencialismo existe uma multimilionária
tributação em impostos, manutenção do poder de consumo (que vão, quase
exclusivamente, para as multinacionais), corrução e interesses eleitorais.
Esse olhar
político sobre a questão não pode deixar de lado o olhar prático da questão. Os
programas assistencialista brasileiros tiveram um grande significado para uma
imensa parcela. E essa parcela não está, exclusivamente nas favelas de São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas sim no norte e nordeste. Lá, no
sertão, nas comunidades ribeirinhas e nas zonas rurais de todo o país, milhares
de pessoas não estão manifestando pela tarifa de ônibus, porque lá não tem
ônibus. Há dez anos atrás milhões de crianças não tinham caderno, lápis e tênis
para frequentar a escola. Milhões de pessoas não sabiam se no outro dia teriam
o que comer ou mesmo água para beber. Não por serem vagabundos ou preguiçosos.
Mas por não terem onde trabalhar. Não terem onde estudar, onde pegar um balde
de água. Não terem nem mesmo o mínimo de um salário mínimo. Pois lá não existem
fábricas, lojas nem banheiros para serem limpos.
Tal problema
(aparentemente sem solução) poderia ser amenizado ou mesmo resolvido, através
de uma nova organização do trabalho e da valorização deste. De uma nova distribuição
de parques industriais e centros comerciais. De um novo direcionamento de
verbas públicas que , por exemplo, gastam bilhões com assessores, papel,
caneta, gasolina que não servem para nada. As verbas direcionadas para cafézinho
dos nossos representantes, em qualquer nível, mataria a fome de milhares de
pessoas. Praticar uma redistribuição de
renda pela valorização do trabalho. Diminuir os lucros dos donos dos meios de
produção para aumentar o salário dos produtores . Assim a consumo e a produção
aumentariam e consequentemente a oferta de empregos também. Um país sem desempregados
não precisa de assistencialismo. Um Estado sem gastos excessivos com programas
assistencialistas teria um sistema tributário mais organizado e mais enxuto.
Assim teríamos um ciclo de produção, consumo, renda e bem-estar social mais
saudável.
Se o
Socialismo comunista, ou mesmo o anarquismo comunista, são utópicos nas
estruturas e conjunturas atuais, um capitalismo menos selvagem não é. Esse
capitalismo um pouco mais saudável é possível e necessário.
Não cabe fazer
previsões sobre o que acontecerá em um futuro próximo ou distante se isso não
acontecer. Mas o que é certo é que enquanto a redistribuição for suficiente
para manter as classes baixas desmobilizadas e com condições mínimas de
sobrevivência, as classes altas poderão se esconder, com uma relativa
tranquilidade, atrás de seus muros e portões fortificados. E o Estado cumpre
seu papel de manter um nível suportável de violência e desigualdade.
1- Porque o assistencialismo é necessário?
ResponderExcluirR: A prática assistencialista dos governos tem uma função inevitável, que é a redistribuição de renda. Tal redistribuição acontece por que a riqueza material primária (alimento e matéria-prima industrial) gerada pelos países capitalistas provém do suor de menos de 10% da população.
aluno : Renan Aparecido Nº26 2ºH