Pular para o conteúdo principal

A vida em um conto


 

Era uma vez uma criança. Comum, como outra qualquer. Comia, bebia e dormia, mas não sabia a diferença entre o que sonhava e o que vivia. E então se perdia. Quando se via só, sabia que não estava. Ou pelo menos pensava. Sabia que pensava ou pensava que sabia. Quando sozinho no escuro alguma coisa lhe falava, mas o ouvido não escutava. A mente ouvia, mas pelas orelhas nada entrava. E ele não temia. Receava. Era criança do mato. E da cidade. Da cidade e do mato. Gostava do silêncio, do silêncio do mato. Gostava da noite. Da noite da rua. Também gostava do barulho. Dos bichos do mato. Das gentes da rua. Ele gostava de saber, de aprender, de se perder. Só não gostava de se arrepender. Sempre buscava fazer, qualquer o que. Fazer. Refazer. Fazendo aprender, arrepender e de novo aprender. Então ele descobriu o amor. Chorou, desejou, desgostou e regostou. E sorriu. Chorou de sorrir. E sorriu de gostar. Fez. O que não era de se fazer. E chorou, de novo chorou. Esqueceu e voltou a ouvir. Fazer, aprender, arrepender. Chorou por fazer e por não fazer. Sorriu quando de novo aprendeu. E amou de novo, errou e de errado chorou. Arrependeu e aprendeu. Mas errou. Fez errado e chorou. De novo errou. E foi vivendo. Errando e fazendo. Chorando e aprendendo. Amando, sorrindo, se arrependendo. Então descobriu a fé. E rezou. À Deus, à Natureza e aos Orixás. A força. Descobriu de novo o amor. Um novo jeito de amar o amor. O ikan, o ori. E então descobriu a dedicação. O próximo. O respeito. O servir. E hoje ele chora. Mais forte. Faz melhor. Ele aprende mais. Ouve mais. Com os ouvidos, mente e coração. Ele se arrepende e mais aprende. Ele sorri e chora com amor e fé. Por amor e pela fé.                             

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tem agente que não é gente.

O conceito de agente público, servidor público, é um dos alicerces fundamentais do processo civilizatório que o Brasil quase não tem. Um agente público serve o público, defende o público, o interesse, os direitos, a segurança, os corpos e os lares do público. Público é o conjunto de cidadãos que pagam os impostos, que por sua vez pagam os salários, aposentadorias e todos os recursos para que existam as instituições públicas. Só que o agente precisa ter esse conceito e essa "crença" no papel social do SERVIÇO público. Antes de reparar no pior, vamos reparar no melhor. Se existe escola, hospital, coleta de lixo e outros serviços públicos que funcionam, bem ou mal, é graças aos bons servidores públicos. Se ainda há crianças aprendendo a ler e escrever, hospitais atendendo pessoas é graças aos bons servidores públicos. E a coisa toda, da polícia ao sistema funerário, só não é melhor por causa da quantidade enorme de pessoas despreparadas moralmente, psicologicamente e intelectua...

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil

Linhagem do Candomblé Kêto no Brasil – Por Alan Geraldo Myleo As informações que seguem foram retiradas do livro de Pierre Verger – Orixás – Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. A construção dessa linhagem que segue gera, até hoje, muitas divergências pois, além se serem baseadas em versões orais, envolvem uma certa vaidade devido a importância histórica, social, cultural e religiosa que envolvem tais versões. 1º Terreiro de Candomblé Kêto (oficialmente reconhecido) (Primeira metade do séc. XIX) Ilê Axé Iyá Nassô Oká Barroquinha, Salvador – BA 1ª Yalorixá - Iyá Nassô 2ª Yalorixá – Marcelina Obatossí 3ª Yalodê ou Erelun(como era conhecida na sociedade Geledé) Nome de batismo: Maria Júlia Figueiredo Obs: essa é considerada a primeira linhagem da Nação Kêto fundada com o auxílio do Babalawô Bangboxê Obiticô. Segundo algumas versões orais, YáNassô era uma das três princesas vindas do Império de Oyó( junto com Yá Acalá e Yá Adetá) que foram alforriadas por...

A Classe Média e a Manutenção da Desigualdade

A classe média brasileira é, atualmente, a mais numerosa entre as classes sociais existentes hoje. Nossa divisão social atualmente é representada pela seguinte tabela: Fonte: http://controle-financeiro.blogspot.com.br/2008/01/diviso-de-classes-sociais-no-brasil.html De acordo com o site R7 “Mais de 29 milhões de pessoas entraram para a classe C entre 2003 e 2009. Com isso, a chamada classe média passou a ser composta por 94,9 milhões de pessoas, representando 50,5% da população brasileira, segundo estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas)”. (fonte: http://noticias.r7.com/economia/noticias/classe-media-do-brasil-ja-representa-mais-da-metade-da-populacao-20100910.html )              Tal classe média tem importantes representações. Economicamente representa a classe mais consumidora. O principal público do consumismo de massa. É a mola propulsora do capitalismo industrial, dos meios de comunicação em massa e de entretenime...