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Vício e desigualdade na digitalização


As transformações naturais das formas de linguagem e leitura de mundo estão cada vez mais aceleradas. Em um período de milhares de anos a oralidade predominava como método didático de educação quando nem mesmo havia a concepção de educação como atividade humana.
A formação intelectual e pessoal fazia parte das tradições culturais, religiosas e sociais. No decorrer de milênios após o uso da linguagem a escrita foi desenvolvida e se responsabilizou-se pela transmissão do conhecimento. O universo do conhecimento multiplicou-se através da escrita. A produção e o registro do conhecimento potencializaram-se infinitamente. A construção de novas teorias, padrões, formas de linguagem e leitura de mundo se formou e eternizou-se em livros. O registro em livros proporcionou uma quase perfeita eternização, se considerarmos o caráter material do papel. Graças a isso muitas obras, trabalhos, diários, documentos e outros tipos de registro foram e são preservados para posteriores estudos e reprodução.
Hoje estamos na era digital. Sem abandonarmos totalmente o papel, estamos nos inserindo gradativamente no processo de digitalização de todo tipo de conhecimento, inclusive educacional. Esse processo, de certa forma, amplia as possibilidades de linguagem pois passa a agregar com mais freqüência e intensidade o uso de imagens, em fotografia, desenhos ou vídeos. É nesse fator que encontramos um paradoxo na digitalização dos métodos de ensino. A era digital está criando um novo de processo cognitivo dependente de imagens. Está criando um vício intelectual, uma dependência visual. A princípio o uso constante de imagens mostra-se eficiente, pois desperta o interesse e atenção ao assunto abordado. Porém em longo prazo perde-se a capacidade de interpretação textual assim como não se cria um hábito e resistência à leituras mais técnicas e teóricas necessárias à formação profissional. Outro fator é o acesso à digitalização que é desigual. Novos métodos, programas e projetos educacionais que envolvem desde brincadeiras até a produção de material didático integram a digitalização como quesito de qualidade e possibilidades. Porém o acesso aos recursos digitais, e internet ainda são limitados em países como o Brasil. Isso contribui ainda mais para o processo de exclusão das oportunidades. A formação de quem não tem o mesmo acesso se construirá sob padrões e recursos “ultrapassados” perante as necessidades sociais de inserção profissional.

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