Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2013

Se Todos Fossem Poetas e Poetizas

Nessa manhã de verão desse século de incertezas me vejo incomodado por um desejo um tanto quanto incomum. Gostaria eu, realmente amaria se melhor expresso o que sinto, mais do que amo normalmente todas as coisas, que todas as pessoas que gosto, prezo, admiro e amo fossem escritoras. Se assim fosse, eu poderia, talvez, melhor compreender o que sentem e como sentem. Poderia eu, se poetas e poetizas fossem, saber como lhes amar melhor, lhes agradar mais vezes, lhes chatear menos. Se poetas e poetizas fossem as pessoas que amo, dedicaria mais tempo de minhas leituras às suas palavras. Às pessoas vivas que são. E que vivem minha vida como vivo as suas. Não que as pessoas mortas não mereçam minha leitura. Pelo contrário. Por estarem mortas em matéria e eternas em palavras são ainda, com certeza, mais do que honradas. Mas porém e todavia, são sempre mais dignas as pessoas vivas por assim estarem. Vivas. Vivas e amadas. Em mesmo enquanto poeta escritor, não dou tanto valor à estimada geni

Ensaio Sobre a Paixão

Até que ponto podemos controlar nossos sentimentos? Bem estar, alegria, satisfação, emoção, amor, ódio, raiva, desprezo, paixão. Paixão. Eis o mais complexo. O mais cruel. O mais intenso. Na paixão há masoquismo. Paixão é quase sinônimo de sofrimento. Quase? Quase não. É o próprio sofrimento. A paixão é o querer impossível. Impulsivo. Mas qualquer impossibilidade torna-se alcançável quando há paixão. Na paixão mora a dúvida. Incompreensão. Incompreensão sobre a causa. De onde vem tal sensação. O que explica tamanha obsessão. Na paixão há medo. Medo das consequências de trocar uma vida por um momento. Há também esperança. Esperança que tal momento se torne uma vida. E que dure toda ela. Toda e além. Além da idade. Dos anos que corroem a convivência com ferrugem em ferro puro. A paixão é ilusão. Ilusão de que aquilo que não pode ser seja. Ilusão de felicidade plena em apenas um abraço. No cheiro do perfume doce no cabelo e no hálito. Felicidade eterna em gesto pass

Reflexividade

A contemporaneidade absorve-me Assim como faz-me absorver coisas estranhas. Essas coisas não se resumem em abstrato ou concreto Vão além da fome, da sede, da carência de afeto. Confunde-me, divide-me entre perdição e libertação. Enche meus ouvidos, pulmões, nariz e coração. Enche-me de impurezas De efeitos colaterais, laterais, horizontais e verticais. Expressivos e opressivos. Degusto a angústia que corrói-me a mesma parte a cada dia. Num suplício de prometeu acorrentado à rocha Prometo dia-a-dia, suportar a cada dia Minha insana mente reflexiva. 

Matemática da desigualdade sem números

Às vezes, quando estou entediado, fico pensando na desigualdade. Talvez, por excesso de conforto e felicidade, me ponha a preocupar-me com os problemas dos outros. Fico com teorias malucas, sem sentido, que não servem pra nada. Mas mesmo assim insisto. Talvez me faça parecer sensível, intelectual. Como se eu fosse alguém que se importa com os problemas do mundo. Tento entender a matemática por traz de tudo. Matemática. A desigualdade é uma questão de matemática.  Não é teoria, política, ideologia, filosofia. É matemática. Poderíamos talvez dizer, por assim dizer, que aquilo que chamamos de riqueza é resultado da soma das coisas que existem na natureza com a força de nosso trabalho, que transforma tais coisas em outras coisas.  E essas coisas que vem de outras coisas e que geram ainda outras coisas vão se multiplicando na medida da engenhosidade e empenho de quem as multiplica. Porém, tal engenhosidade e empenho têm um limite humano. Se a propriedade privada é

Olhos No Espelho

                     Aqueles olhos. Nem verdes nem azuis. Não tem a cor do mel nem do céu. Castanhos apenas. Escuros. Cílios longos. Pretos da cor da pupila. A menina dos olhos. O brilho é da noite. De lua cheia atrás das nuvens. De céu sem estrelas de tantas nuvens. Vencidas pela lua cheia cheia de brilho, Como os olhos quando cheio de lágrimas.  Aqueles olhos. De águia. Atentos. Focados. Hipnóticos. Estáticos em movimento. Cada um deles. Olhar profundo. Como tal só os sábios. Olhos desenhados de herança cigana. Janelas da alma. Portais do ser. Transcende imagens em sensações. Em dimensões de olhares aos impulsos do que se sente. Meus olhos. 

Camila Fernanda Caeiro

Foram elas que me apresentaram um velho amigo que ainda não conhecia. Camila, com seu jeito simples de ser, voz suave de tom baixo. Inteligência emocional acentuada. Um ar de compreensão que conforta só com olhar. Fernanda. De senso de humor quase perverso e olhar indignado com tudo àquilo que a incomoda. Expressa uma maturidade que trará muitos tormentos. Especialmente aos que ousarem lhe opor. O velho amigo que eu não conhecia? Chama Caeiro. Alberto Caeiro. A menina Camila e a moça Fernanda perceberam o quanto somos parecidos. Em uma manhã de devaneios sobre o universo, as estrelas, a química e a existência, compartilhei um sentimento pensante. Na curta caminhada de casa pro trabalho, atravessando a rua com nome de alguém que já morreu, em matéria mas não em memória, imaginei o quanto, nós humanos, somos parecidos com as estrelas.   Como o sol, somos feitos dos mesmos elementos. Aqueles da tabela periódica. Somos também movidos por energia. Energia que vem daquilo que c

A Visão do Paraíso - Sérgio Buarque de Holanda - Considerações

Os textos a seguir compreendem um estudo interpretativo da obra de Sérgio Buarque de Holanda. O objetivo é compartilhar comentários e observações a respeito dos aspectos principais apresentados pela obra ao longo de seu desenvolvimento de uma maneira simplificada e acessível à alunos do Ensino Médio e principiantes dos cursos de História. O que não ausenta a necessidade de se estudar a própria obra.   Visão do Paraíso – Prefácio à segunda edição – páginas IX á XXIV A colonização da America, O novo mundo, foi considerada e registrada como a conquista do paraíso. O éden bíblico prometido por Deus. De norte a sul. Entre ingleses, espanhóis e portugueses a concepção e ambição de fazer dessas terras o lugar da liberdade e da prosperidade foi algo comum. Houve, contudo, diferenças fundamentais nas estruturas e estratégias de colonização de ambas. Portugueses e espanhóis compartilhavam a moral e ética católica e estruturas predominantemente feudais. Os ingleses se fundamenta

Lembrança - Por Thaís Fernanda

Lá estava a menina mutilada por suas ilusões, sonhos massacrados pelo príncipe encantado, em uma dança incessante de giros, mão se movendo, pés que não param. Lá estava o menino agoniado pela realidade intensa, era movido pelo “preciso ir pra casa” que enchia sempre sua mente quando procurava a cura de suas feridas. Ali era sua casa. A paz, a loucura, o álcool, as luzes, a música, o cigarro, as drogas. Dançando, girando, gritando. Eles ficaram unidos pelo “lar”. E logo ali ao lado tinha um quarto, o santuário sagrado de uma cidade perfeita, e lá houve a comunhão de feridas, de lágrimas, toques, gritos e prazer. Até que o sol atingiu sua pele, ela acordou do seu sonho perfeito, o cheiro de perfume, cigarro e bebida ela inalou de suas próprias roupas e cabelo; o ato sagrado estava marcado, de uma forma assustadora, fria e linda. Ela fugiu. Algo o queimava tão intensamente que o forçou a sair de seus pensamentos inconscientes, eram os raios solares que saiam da janela. Com sua